tenho sentido o tempo passar, tic taqueando, escoando, cobrando cada segundo da minha vida. As vezes tento pará-lo, quando inesperadamente sinto o cheiro de uma flor, quando o céu parece estar mais azul, quando fico em silêncio...As vezes tento fazê-lo passar mais rápido, quero que um dia específico chegue de uma vez, quero o fim de semana, quero férias. Mas o tempo ninguém controla. O tempo nos controla a nós.
Podemos contar as novas rugas que nascem. Mas também podemos contar mais histórias, mais experiências, uma linha de expressao para cada uma delas.
Lembro de que quando era pequena nao conseguia me imaginar mais velha. Hoje, mais velha, pouca coisa consigo lembrar de quando era pequena. Mas as vezes tenho a sensaçao do tempo nao ter passado, de eu ter passado pelo tempo. De ser a mesma, sempre. Por dentro. E por fora ter desenvolvido formas de lidar com as coisas para ser aceita pelo mundo.
E a criança, aquela que realmente sou, está adormecida, junto com o tempo, me esperando acordar para descobrir que o tempo nao existe, que o tempo nao passa, que as rugas de expressao sao ilusao criada pelo espelho.
Esperando eu acordar do sonho, acordar e ver que sigo sendo a mesma criança de antes, a mesma bicuda, bicho do mato, mas capaz de se abismar com as coisas mais pequenas.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Minha casa
Tenho passado algumas horas acordada pelas noites. Fico desperta, tentando dormir, de olhos fehcados, pensando na minha casa. E quando digo minha quero dizer uma que ainda não existe. Pelo menos não fisicamente, porque na minha cabeça já está nos detalhes finais.
Isso porque esses dias, falando com a minha mãe, decidi construir minha casa. Decidi, entre aspas. Primeiro tenho que comprar uma terra. Mas, enfim, se um dia vou ter uma terra minha, quero fazer a casa dos meus sonhos e não a dos sonhos alheios.
Assim que passei os dois últimos dias, papel quadriculado e caneta na mão, desenhando, tentando até manter as proporções. Desenha daqui, rabisca de lá, ninguém manda não ser arquiteta! Mas pouco a pouco fui chegando em um acordo.
Já a vejo claramente. Casinha ampla, iluminada, nada de muitas divisórias. O lugar principal da casa? A varanda, claro! Casinha de madeira, cercada de flores.
E falando em flores, até já estive pesquisando o jardim. Visitei diversos sites, buscando flores e mais flores. Flores de primavera, mas também flores de inverno, quando não estão umas, estarão as outras, assim que a casa, minha sonhada casa, nunca estará cinzenta.
Imagino a casa com uma floresta atrás. Uma cachoeira ali pertinho. Na entrada um portão de flores. Gnomos e fadas certamente passearão por ali.
Agora me falta encontrar tal terra.
E me falta também o dinheiro para comprá-la, mas enfim, isso é detalhe.
Isso porque esses dias, falando com a minha mãe, decidi construir minha casa. Decidi, entre aspas. Primeiro tenho que comprar uma terra. Mas, enfim, se um dia vou ter uma terra minha, quero fazer a casa dos meus sonhos e não a dos sonhos alheios.
Assim que passei os dois últimos dias, papel quadriculado e caneta na mão, desenhando, tentando até manter as proporções. Desenha daqui, rabisca de lá, ninguém manda não ser arquiteta! Mas pouco a pouco fui chegando em um acordo.
Já a vejo claramente. Casinha ampla, iluminada, nada de muitas divisórias. O lugar principal da casa? A varanda, claro! Casinha de madeira, cercada de flores.
E falando em flores, até já estive pesquisando o jardim. Visitei diversos sites, buscando flores e mais flores. Flores de primavera, mas também flores de inverno, quando não estão umas, estarão as outras, assim que a casa, minha sonhada casa, nunca estará cinzenta.
Imagino a casa com uma floresta atrás. Uma cachoeira ali pertinho. Na entrada um portão de flores. Gnomos e fadas certamente passearão por ali.
Agora me falta encontrar tal terra.
E me falta também o dinheiro para comprá-la, mas enfim, isso é detalhe.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Melancolia
Tenho uma semana estranha. Prefiro justificar pela proximidade do aniversário. Talvez não seja a toa que no Brasil se fala do inferno astral. Uma semana meio triste, embora o sol brilhe lá fora. Uma semana de auto perguntas para as quais não tenho respostas.
Não sei exatamente o que sinto. Creio que somos mais lúcidos quando pequenos. Mas não sei. Geralmente estou contente (feliz é uma palavra muito forte), mas as vezes, me sinto vazia. Me parece que toda a relação que tenho é superficial. Quem se importa? Quem realmente te olha. Muitos te olham, quantos te vêem?
Não é que pense que têm que se importar. Mas, e o verdadeiros amigos? Me sinto só. Esta é a verdade. Pensei que era boa em estar sozinha. Sozinha com um livro. Mas já não tenho tanta certeza. E ao mesmo tempo, estou cercada de gente. Mas a solidão não me deixa.
Fico na praia, o sol gostoso, um livro na mão, mas sinto falta de companhia. Alguém pra conversar. Ou alguém em silencio comigo. Enfim, uma presença. Não sei se sei estar só. Sozinha com meus pensamentos, com minhas dúvidas. As vezes faz falta alguém para compartí-las.
Ou é que não me conheço, mesmo depois de todo esse tempo convivendo comigo mesma. Não me conheço, não me entendo e talvez não me ame o suficiente para ser feliz sozinha. Porque me sinto incompleta, e ao mesmo tempo sei que é uma contradição. Somos completos, cada um por si. E nos complementamos todos.
Mas não passa de teoria. Uma teoria fácil de ser entendida, mas difícil de ser sentida. Sei com a cabeça. Não com o coração. E me faz falta. Faz tempo que não me sinto completa. Mas por algum tempo pude me auto enganar. Ficar contente com coisas superficiais. Comprar. Comer. Dormir. Mas não é suficiente. Em algum momento o auto engano deixou de surtir efeito. Como um remédio que aos poucos o corpo vai se acostumando.
Sei que são momentos passageiros. Os vejo como momentos de realidade. Onde um finalmente se faz perguntas. Onde a gente finalmente se sente na pele de ser humano.
Sinto saudades de saber quem sou. Será que o soube alguma vez?
Enfim, sinto saudades de mim mesma.
Não sei exatamente o que sinto. Creio que somos mais lúcidos quando pequenos. Mas não sei. Geralmente estou contente (feliz é uma palavra muito forte), mas as vezes, me sinto vazia. Me parece que toda a relação que tenho é superficial. Quem se importa? Quem realmente te olha. Muitos te olham, quantos te vêem?
Não é que pense que têm que se importar. Mas, e o verdadeiros amigos? Me sinto só. Esta é a verdade. Pensei que era boa em estar sozinha. Sozinha com um livro. Mas já não tenho tanta certeza. E ao mesmo tempo, estou cercada de gente. Mas a solidão não me deixa.
Fico na praia, o sol gostoso, um livro na mão, mas sinto falta de companhia. Alguém pra conversar. Ou alguém em silencio comigo. Enfim, uma presença. Não sei se sei estar só. Sozinha com meus pensamentos, com minhas dúvidas. As vezes faz falta alguém para compartí-las.
Ou é que não me conheço, mesmo depois de todo esse tempo convivendo comigo mesma. Não me conheço, não me entendo e talvez não me ame o suficiente para ser feliz sozinha. Porque me sinto incompleta, e ao mesmo tempo sei que é uma contradição. Somos completos, cada um por si. E nos complementamos todos.
Mas não passa de teoria. Uma teoria fácil de ser entendida, mas difícil de ser sentida. Sei com a cabeça. Não com o coração. E me faz falta. Faz tempo que não me sinto completa. Mas por algum tempo pude me auto enganar. Ficar contente com coisas superficiais. Comprar. Comer. Dormir. Mas não é suficiente. Em algum momento o auto engano deixou de surtir efeito. Como um remédio que aos poucos o corpo vai se acostumando.
Sei que são momentos passageiros. Os vejo como momentos de realidade. Onde um finalmente se faz perguntas. Onde a gente finalmente se sente na pele de ser humano.
Sinto saudades de saber quem sou. Será que o soube alguma vez?
Enfim, sinto saudades de mim mesma.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Vipassana
No dia 26, saímos do vipassana. Experiência única, linda, inesquecível. Os dez dias foram incríveis, muito frios, mas seguíamos vivas.
No primeiro dia acabei tomando um banho gelado porque no banheiro em que entrei estava sem água quente e, ai, quase morro congelada. Nos outros dias deu para tomar banho frio (atenção, não era congelante! Uma glória!) e só nos últimos 2, como prêmio de conso
lação, realmente quente.
Passar os 10 dias em silencio nem foi tão complicado como imaginei a princípio. Até porque estavam todos em silêncio, o que te deixava com menos vontade de falar. As dúvidas sempre podiam ser tiradas com o professor (o que permitia o intercâmbio de palavras uma vez a cada dois dias) e se necessitássemos qualquer coisa (como cobertores extras) podíamos pedir para as voluntarias. De resto o silencio era total. Fora uma italiana que não conseguia ficar quieta e de vez em quando falava dormindo, sozinha e ainda por cima cantava nas hoas livres. Homens e mulheres ficavam em lugares separados, só se encontravam durante a meditação, porque só havia um professor.
Dormíamos em uns barracões divididos em seções. Cada seção tinha 3 camas e só. Os banheiros eram compartidos. Tudo muito simples. E não emagrecemos nada (uma lástima!) porque comida foi uma coisa que não faltou. Fizemos 3 refeições diárias ( uma as 6:30, outra as 11:00 e a ultima as 05:00) e, de verdade, não fiquei com fome. Acordar as 4:00 foi triste. No primeiro dia tudo bem, é novidade, mas conforme o tempo vai passando vai ficando mais e mais difícil. A preguiça vai chegando, o frio vai querendo tomar conta e a vontade de ficar embaixo das cobertas por mais um tempo fica cada vez maior. Ótimo para vencer tudo isso. Eu não esperava o despertador tocar duas vezes. Já dormia pronta, pulava da cama correndo pra lavar o rosto, escovar os dentes e me esconder no sala de meditação, essa sim uma sala com paredes de verdade. Devo confessar que creio ter cochilado algumas vezes na primeira meditação matutina.
O dia mais difícil foi quando nos foi pedido por primeira vez a imobilidade completa por umas 3 horas. Tudo gritava, cada parte do corpo. Senti como milhares de agulhas fincadas na minha pele. Queria me mover, mas sabia que não podia. E não queria. Queria vencer isso.E então tive o corpo inteiro coberto de sensações e tive consciência de cada parte do meu corpo. Foi difícil voltar a me mover. Todos, ao final da meditação se levantaram correndo e foram para fora movimentar o corpo. Eu não consegui. Tive que mover cada junta lentamente. E quis chorar em cada movimento. Depois, a dor passou, como tudo mais. E a partir daí, ficar imóvel, bom, não é que ficou fácil, mas se se podia fazer uma vez, podia fazer duas, três, quantas fossem necessárias.

Meditaçao não faltou. A técnica, propagada por Goenka, é supostamente aquela deixada por Budha, na sua forma pura, e não distorcida pelos anos. Permite a gente de todas as religiões praticá-la. Começa com o prestar de atenção na respiração e numa pequenina parte do corpo.
Depois a atenção vai passando às sensações. Segundo Budha, tudo começa na mente, é criado na mente, depois se plasma no plano físico. E quando você se conhece, mental ou fisicamente passa a compreender a lei da natureza (afinal, faz parte dela) – “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”.
Aprendemos a aceitar que tudo passa. As sensações passam, as dores passam, e assim também passa a vida. Se educamos a mente a compreender que as sensações do corpo não são permanentes, podemos fazê-la entender que NADA é. E aprenderemos a aceitar tudo. Daí a questão do desapego e não identificação. Para mim foi uma experiência muito forte, não só pela dificuldade de ficar imóvel, ou pela de tentar ficar sem pensar (impensável isso para mim) por pelo menos 10 horas diárias.
O mais forte me passou no sétimo dia. No intervalo para o chá me passou pela cabeça que minha mãe tinha morrido e que ninguém tinha como me avisar. E foi tão forte a sensação que meio que desesperei. Ate porque sempre disse para mim mesma que se alguém na minha família morresse e eu não estivesse presente saberia que essa pessoa morreu porque ao pensar nela começaria a chorar. E foi o que aconteceu. Me tranqüilizei, dizendo que era só um pensamento, que estava tudo bem e que ia passar.
Mas naquela noite, no
discurso, o professor contou uma historia de Budha que fala que não existe uma família sem morte e eu me dei conta que na minha não, pelo menos desde que eu nasci, ou desde que era muito pequena para lembar. Ainda assim tentei ficar tranqüila. Mas no outro dia a história não saia da cabeça e durante uma das meditações entrei em pânico. Uma das assistentes disse que eu podia faltar a próxima hora para eu me acalmar e que ela ia falar com o professor. Depois fui eu falar com ele, que me explicou que neste processo é normal esse tipo de coisa, que é para perder o apego, limpar a mente, que é normal que aconteça, já que ali, estamos todos mais sensíveis. Mas que se eu quisesse eles davam um jeito de entrar em contato com minha mãe para ver se estava tudo bem.
Sei que depois disso foi muito difícil porque a dúvida era se era realmente parte do processo ou era uma intuição. Resolvi entregar a Deus, se minha mãe estivesse morta, não poderia fazer mais nada por ela. Sim que poderia pela minha família, mas eles sabiam que eu estava inacessível.
Foi muito, muito bom, para me dar conta de que realmente devemos dizer todos os dias TE AMO às pessoas que realmente queremos porque podemos não estar presentes quando estas se forem. Para elas não fará mais diferença, afinal, já não estarão entre nós, mas para nós, a sensação de que poderíamos ter dito mais vezes, permanece.

Assim, que quando saímos esperei impacientemente dar um horário decente no Brasil (8 horas de diferença) e liguei pra casa. Ainda levei mais um susto, já que atendeu o pai do meu irmão, que quase nunca está no Matutu. Mas, afinal, era só um processo mesmo. Minha mãe seguia viva, muito viva.
O vipassana foi ótimo para aceitar a Índia nos 3 meses que se seguiram. Equanimidade era a palavra chave. Embora nem sempre funcionasse, equilibrou muito. E me fez muito mais serena (pelo menos enquanto tive lá?). Seguimos meditando 1hora, duas vezes por dia, por mais algum tempo. Mas nao durou a viagem toda. A princípio colocamos a culpa em, muitas vezes, termos que acordar ainda de madrugada. E depois, chegávamos cansadas. Justificativas nao faltam. Persistenica sim.
Agora, a parte que foi engraçada. Primeiro, nunca vi tantos macacos. Matutu é fichinha. Até no meio da cidade, você andando pela rua, tropeça em alguns. Lá retiro eram famílias de 30 macacos passando o tempo inteiro. Desde macacos grandes aos filhotinhos mais fofos. Só éramos aconselhados a não encarar nem sorrir porque eles tomam isso como desafio e se tornam bastante agressivos. Mas as vezes era impossível, até porque passavam a uma distância tão curta que poderia tocá-los.Fora a confusão que faziam durante a meditação, ficavam andando nos telhados, que eram de telhas de alumínio e, nossa, uma barulheira tremenda, parecia que tudo estava vindo abaixo.

No primeiro dia acabei tomando um banho gelado porque no banheiro em que entrei estava sem água quente e, ai, quase morro congelada. Nos outros dias deu para tomar banho frio (atenção, não era congelante! Uma glória!) e só nos últimos 2, como prêmio de conso
Passar os 10 dias em silencio nem foi tão complicado como imaginei a princípio. Até porque estavam todos em silêncio, o que te deixava com menos vontade de falar. As dúvidas sempre podiam ser tiradas com o professor (o que permitia o intercâmbio de palavras uma vez a cada dois dias) e se necessitássemos qualquer coisa (como cobertores extras) podíamos pedir para as voluntarias. De resto o silencio era total. Fora uma italiana que não conseguia ficar quieta e de vez em quando falava dormindo, sozinha e ainda por cima cantava nas hoas livres. Homens e mulheres ficavam em lugares separados, só se encontravam durante a meditação, porque só havia um professor.
Dormíamos em uns barracões divididos em seções. Cada seção tinha 3 camas e só. Os banheiros eram compartidos. Tudo muito simples. E não emagrecemos nada (uma lástima!) porque comida foi uma coisa que não faltou. Fizemos 3 refeições diárias ( uma as 6:30, outra as 11:00 e a ultima as 05:00) e, de verdade, não fiquei com fome. Acordar as 4:00 foi triste. No primeiro dia tudo bem, é novidade, mas conforme o tempo vai passando vai ficando mais e mais difícil. A preguiça vai chegando, o frio vai querendo tomar conta e a vontade de ficar embaixo das cobertas por mais um tempo fica cada vez maior. Ótimo para vencer tudo isso. Eu não esperava o despertador tocar duas vezes. Já dormia pronta, pulava da cama correndo pra lavar o rosto, escovar os dentes e me esconder no sala de meditação, essa sim uma sala com paredes de verdade. Devo confessar que creio ter cochilado algumas vezes na primeira meditação matutina.
O dia mais difícil foi quando nos foi pedido por primeira vez a imobilidade completa por umas 3 horas. Tudo gritava, cada parte do corpo. Senti como milhares de agulhas fincadas na minha pele. Queria me mover, mas sabia que não podia. E não queria. Queria vencer isso.E então tive o corpo inteiro coberto de sensações e tive consciência de cada parte do meu corpo. Foi difícil voltar a me mover. Todos, ao final da meditação se levantaram correndo e foram para fora movimentar o corpo. Eu não consegui. Tive que mover cada junta lentamente. E quis chorar em cada movimento. Depois, a dor passou, como tudo mais. E a partir daí, ficar imóvel, bom, não é que ficou fácil, mas se se podia fazer uma vez, podia fazer duas, três, quantas fossem necessárias.
Meditaçao não faltou. A técnica, propagada por Goenka, é supostamente aquela deixada por Budha, na sua forma pura, e não distorcida pelos anos. Permite a gente de todas as religiões praticá-la. Começa com o prestar de atenção na respiração e numa pequenina parte do corpo.
Depois a atenção vai passando às sensações. Segundo Budha, tudo começa na mente, é criado na mente, depois se plasma no plano físico. E quando você se conhece, mental ou fisicamente passa a compreender a lei da natureza (afinal, faz parte dela) – “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”.
Aprendemos a aceitar que tudo passa. As sensações passam, as dores passam, e assim também passa a vida. Se educamos a mente a compreender que as sensações do corpo não são permanentes, podemos fazê-la entender que NADA é. E aprenderemos a aceitar tudo. Daí a questão do desapego e não identificação. Para mim foi uma experiência muito forte, não só pela dificuldade de ficar imóvel, ou pela de tentar ficar sem pensar (impensável isso para mim) por pelo menos 10 horas diárias.
O mais forte me passou no sétimo dia. No intervalo para o chá me passou pela cabeça que minha mãe tinha morrido e que ninguém tinha como me avisar. E foi tão forte a sensação que meio que desesperei. Ate porque sempre disse para mim mesma que se alguém na minha família morresse e eu não estivesse presente saberia que essa pessoa morreu porque ao pensar nela começaria a chorar. E foi o que aconteceu. Me tranqüilizei, dizendo que era só um pensamento, que estava tudo bem e que ia passar.
Mas naquela noite, no
Sei que depois disso foi muito difícil porque a dúvida era se era realmente parte do processo ou era uma intuição. Resolvi entregar a Deus, se minha mãe estivesse morta, não poderia fazer mais nada por ela. Sim que poderia pela minha família, mas eles sabiam que eu estava inacessível.
Foi muito, muito bom, para me dar conta de que realmente devemos dizer todos os dias TE AMO às pessoas que realmente queremos porque podemos não estar presentes quando estas se forem. Para elas não fará mais diferença, afinal, já não estarão entre nós, mas para nós, a sensação de que poderíamos ter dito mais vezes, permanece.
Assim, que quando saímos esperei impacientemente dar um horário decente no Brasil (8 horas de diferença) e liguei pra casa. Ainda levei mais um susto, já que atendeu o pai do meu irmão, que quase nunca está no Matutu. Mas, afinal, era só um processo mesmo. Minha mãe seguia viva, muito viva.
O vipassana foi ótimo para aceitar a Índia nos 3 meses que se seguiram. Equanimidade era a palavra chave. Embora nem sempre funcionasse, equilibrou muito. E me fez muito mais serena (pelo menos enquanto tive lá?). Seguimos meditando 1hora, duas vezes por dia, por mais algum tempo. Mas nao durou a viagem toda. A princípio colocamos a culpa em, muitas vezes, termos que acordar ainda de madrugada. E depois, chegávamos cansadas. Justificativas nao faltam. Persistenica sim.
Agora, a parte que foi engraçada. Primeiro, nunca vi tantos macacos. Matutu é fichinha. Até no meio da cidade, você andando pela rua, tropeça em alguns. Lá retiro eram famílias de 30 macacos passando o tempo inteiro. Desde macacos grandes aos filhotinhos mais fofos. Só éramos aconselhados a não encarar nem sorrir porque eles tomam isso como desafio e se tornam bastante agressivos. Mas as vezes era impossível, até porque passavam a uma distância tão curta que poderia tocá-los.Fora a confusão que faziam durante a meditação, ficavam andando nos telhados, que eram de telhas de alumínio e, nossa, uma barulheira tremenda, parecia que tudo estava vindo abaixo.
Ao sairmos do vipassana resolvemos nao voltar ao mesmo hotel. Acabamos indo nos hospedar no monastério Tschaselink, que ficava descendo uma escadaria imensa, inacabável, mal iluminada pela noite, mas um exercicio muito bom de subir e descer (fora quando tivemos que subir com a mochila, acho que demoramos meia hora). Um pouco mais caro, mas muito, muito mais tranquilo e proprício a nós, ainda meio no mundo da lua.
Próxima sessão cultural. Vocês sabem porque a comida da Índia é tão apimentada??? Diz a lenda que é porque em muitas partes se comia comida estragada e a pimenta serviria para esconder o gosto!!!!! Blergh!

Próxima sessão nomes. Já sabem o que meu nome significa eu em hebraico. Agora, em japonês, significa "o irmão mais velho". Imaginem a situação. Eu, no Japão, tentando me apresentar. “Oi, eu sou o irmao mais velho”. Primeiro iam achar que estou falando errado e perguntar: Você quer dizer a Irma mais velha? Irmã mais velha de quem?” E eu digo, “não, sou o irmão mais velho!!!” Pronto, ou, de novo vão me achar maluca ou vão achar que sou travesti!
Conclusão: não posso ir para Israel nem para o Japão, e, por favor, tenham cuidado ao por nomes nos filhos... podem estar chamando eles de repolho ou ate abobrinha e como sabem, o nome influencia a personalidade, então seus filhos ou vão soltar muito pum (repolho da gases, sabiam?) ou só vão falar besteira...
Próxima sessão cultural. Vocês sabem porque a comida da Índia é tão apimentada??? Diz a lenda que é porque em muitas partes se comia comida estragada e a pimenta serviria para esconder o gosto!!!!! Blergh!
Próxima sessão nomes. Já sabem o que meu nome significa eu em hebraico. Agora, em japonês, significa "o irmão mais velho". Imaginem a situação. Eu, no Japão, tentando me apresentar. “Oi, eu sou o irmao mais velho”. Primeiro iam achar que estou falando errado e perguntar: Você quer dizer a Irma mais velha? Irmã mais velha de quem?” E eu digo, “não, sou o irmão mais velho!!!” Pronto, ou, de novo vão me achar maluca ou vão achar que sou travesti!
Conclusão: não posso ir para Israel nem para o Japão, e, por favor, tenham cuidado ao por nomes nos filhos... podem estar chamando eles de repolho ou ate abobrinha e como sabem, o nome influencia a personalidade, então seus filhos ou vão soltar muito pum (repolho da gases, sabiam?) ou só vão falar besteira...
Dharamshala
Já ali conhecemos a versão “comerciante” dos indianos. Malas em cima, proibido. Embaixo, tivemos que pagar pela segurança delas.
Como nem eu nem a Lu tínhamos idéia de onde íamos ficar e chegaríamos meio que de madrugada puxei conversa com uma menina que estava sozinha porque ela estava levando tão pouca bagagem que pensei que talvez não fosse sua primeira vez na Índia. Estava errada, Naom, israelita, também nunca tinha ido e também não sabia onde ia ficar.
Pela primeira vez, mas não por última, alguém me falou que tenho cara de israelita. Me disse também que era muito difícil falar em inglês comigo, já que toda vez que me olhava o hebreu vinha na sua cabeça. E ficou meio que espantada com meu nome, já que em hebreu significa “eu”. Então imaginem se eu fosse me apresentar em hebreu para um israelita: Oi, eu me chamo Eu! Simplesmente ridículo...
Pela primeira vez, mas não por última, alguém me falou que tenho cara de israelita. Me disse também que era muito difícil falar em inglês comigo, já que toda vez que me olhava o hebreu vinha na sua cabeça. E ficou meio que espantada com meu nome, já que em hebreu significa “eu”. Então imaginem se eu fosse me apresentar em hebreu para um israelita: Oi, eu me chamo Eu! Simplesmente ridículo...
Chegamos em Dharamshala as 06:30 da manha, ainda escuro e MUITO frio. A parada do ônibus estava cheia de indianos tentando nos levar cada um para um hotel diferente. Como estávamos cansados e estava muito escuro para sair procurando outro lugar fizemos negocio com um deles. Quarto duplo para mim e para Lu por 150 rupias (1,50 euros para cada uma!) e quarto solteiro para os dois por 100 rupias.
O hotel era lindo, limpo, e tinha um terraço com uma vista incrível. E acabou que o negócio foi bom porque depois saímos para procurar outro lugar para ficar e nenhum quis nos oferecer nada por este preço e aqueles que chegavam perto não eram tão bons (por exemplo, dormitório com chuveiro fora do quarto e ainda por cima sem água quente).
Daramshala é uma cidadezinha perdida nos pés do Himalaia. Cidade onde vive o Dalai Lama. Cidade, também, onde estão muitos refugiados que escaparam do Tibete durante a exterminação feita pela China, logo, com mais cultura tibetana que indiana. Talvez por ser mais tibetana a cidade era um pouco mais limpa do que as que vimos depois. Fora, lógico, a natureza ao redor. Embora nao fosse totalmente inverno, já se podiam ver alguns picos brancos, e também o céu, incrivelmente azul.
Daramshala é uma cidadezinha perdida nos pés do Himalaia. Cidade onde vive o Dalai Lama. Cidade, também, onde estão muitos refugiados que escaparam do Tibete durante a exterminação feita pela China, logo, com mais cultura tibetana que indiana. Talvez por ser mais tibetana a cidade era um pouco mais limpa do que as que vimos depois. Fora, lógico, a natureza ao redor. Embora nao fosse totalmente inverno, já se podiam ver alguns picos brancos, e também o céu, incrivelmente azul.
Seguindo indicações de nosso amigo, descobrimos a maravilha da comida tibetana. momo, uma espécie de pastel de verduras, de queijo (ou de carne para os nao vegetarianos) cozidos ao vapor, foi um dos pr
atos prediletos. Até que descobrimos um restaurante minúsculo escondido atrás de um lençol. O nome, impossível saber, já que estava escrito em língua estranha. A cozinha, pequena e suja. A comida, a melhor, sem dúvida. A thukpa, uma sopa de macarrão foi uma das preferidas da Lu. Já eu, o macarrão com verduras. Uma perdição.
Já no dia 09 fomos ver onde ficava o vipassana e nos inscrever. Fiquei bastante amedrontada porque a rotina era bastante dura. Despertar as 04:00 da manha todos os dias, meditar duas horas, intervalo de 01:30 horas para o café, mais meditação, de 11:00 as 12:00 intervalo para almoço, depois mais uma hora de descanso e mais meditação ate as 09:30 da noite que ai iríamos dormir, com um intervalo para lanche em alguma hora. Fora que o lugar é frio e nos falaram para levar saco de dormir ou mais cobertor, que apesar de eles fornecerem um, as paredes são de plástico e parecia não ser suficiente.
Mas chegamos a tempo de nos inscrever no último do ano. Último porque depois o frio não permitiria mais. Isso porque era novembro e já aí sentíamos os ossos congelarem depois dos escurecer...
Já no dia 09 fomos ver onde ficava o vipassana e nos inscrever. Fiquei bastante amedrontada porque a rotina era bastante dura. Despertar as 04:00 da manha todos os dias, meditar duas horas, intervalo de 01:30 horas para o café, mais meditação, de 11:00 as 12:00 intervalo para almoço, depois mais uma hora de descanso e mais meditação ate as 09:30 da noite que ai iríamos dormir, com um intervalo para lanche em alguma hora. Fora que o lugar é frio e nos falaram para levar saco de dormir ou mais cobertor, que apesar de eles fornecerem um, as paredes são de plástico e parecia não ser suficiente.
Mas chegamos a tempo de nos inscrever no último do ano. Último porque depois o frio não permitiria mais. Isso porque era novembro e já aí sentíamos os ossos congelarem depois dos escurecer...
Dharamshala é a cidade ideal para fazer cursos de, claro, cozinha tibetana e massagem. Logo, ótimo lugar para receber massagens. Lu deu sorte e encontrou um ótimo médico massagista, de quem saiu falando maravilhas, já com o ciático mais calmado. Já eu, deixei para depois do vipassana e já nao o encontrei mais. E eu, consegui achar um dentista limpinho que viu que eu necessitava de um canal no cizo, por isso doia tanto...Mas como ele nao fazia, comprei tylenol.
No hotel o dono ou recepcionista ou multi uso, sei lá, estava sempre tentando nos vender um pacote para Kashmira, que parece ser um lugar muito bonito, embora um pouco perigoso. E pensamos em ir depois do vipassana. Só que dependíamos do preço, que ficamos na dúvida se era 2500 rúpias (muito barato, lógico que iríamos) ou 250 dólares (tipo, nem pensar!), porque o cara falava inglês pré histórico. No final era caro mesmo e não fomos para alívio dos pais.
Compramos um cobertor tibetano e umas luvas e meias de lã bem engraçadas para ver se sobreviviamos ao vipassana.

Compramos um cobertor tibetano e umas luvas e meias de lã bem engraçadas para ver se sobreviviamos ao vipassana.

Aproveitamos também para conhecer uma cachoeira que ficava perto, muito linda, por sinal. Pena o frio, que impossibilitava qualquer contato com a água. Fora também que apesar do lugar ser lindo, não faltou lixo espalhado ao redor, típico da cultura deles também.
Nos dias anteriores ao vipassana conhecemos também o monastério do Dalai Lama. O templo é lindo, cheio de pinturas em todas as paredes, enormes estátuas de Budha, e um ambiente bem agradável. Fora as 108 rodas para mantralizar o "om mani padme hum". Pena que ele nao estivesse por la.

Nos dias anteriores ao vipassana conhecemos também o monastério do Dalai Lama. O templo é lindo, cheio de pinturas em todas as paredes, enormes estátuas de Budha, e um ambiente bem agradável. Fora as 108 rodas para mantralizar o "om mani padme hum". Pena que ele nao estivesse por la.
Ainta tentamos chegar no alto das montanhas. Um passeio fantástico, mas morremos na praia. Isso porque fomos sozinhas e caminhamos, caminhamos e caminhamos, quase infitamente e nao chegávamos. Lu com dor de ciático (isso foi antes da massagem) e eu preocupada que ficasse escuro antes de conseguirmos voltar. Acho que já estávamos quase lá quando resolvemos voltar. Só saberemos da próxima vez que formos. Mas, o passeio valeu a pena. Encontramos um bar a nao sei quantos mil metrso de altura, lá no meio do nada, um vento constante batendo. Os produtos, levados em burros. Enfim, umas 9 horas de caminhada entre ir e voltar.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Delhi
Nem faz tanto tempo assim. Na verdade agora parece bem mais. Mas são apenas dois anos, dois anos desde a minha viagem à Índia. Às vezes penso que tudo não passou de um sonho. Todas as memórias parecem tão distantes, tão quase impossíveis! Então olho as fotos, as milhares de fotos que tirei, e provo para mim mesma que foi real, que realmente fiz essa viagem.
Índia...Incrível Índia
! Como explicar? Volto a repetir que a minha primeira reação, ao sair do avião no aeroporto de Delhi foi de voltar pra dentro dele. Aeroporto internacional? Na teoria sim, recebe vôos de todas as outras partes do mundo. Mas, já ali, dentro de um lugar que eu imaginava ainda voltado para os turistas ocidentais, tive meu primeiro choque cultural.
Se tem uma coisa que não gosto é de ir ao banheiro em avião. Cheira mal e me dá enjôo. Fora que tenho nojo e prefiro me agüentar. Ainda mais porque tinha acabado de fazer escala em Munich, e devo dizer, que depois de todas as minhas viagens posso votar, com segurança, no aeroporto de Munich como o mais limpo de todos.
Em Delhi não tive coragem de usar o banheiro. Isso porque estava muito apertada. Se me lembro bem, são 9 horas de vôo desde Munich até Delhi, ou seja, 9 horas desde que havia usado o banheiro por última vez. E o banheiro de Delhi não ajudou muito. Sujo é pouco perto daquilo. Ainda achei muito estranho porque tinha uma torneira, ao lado da privada (nada de privadas troninho – a grande satisfação dos ocidentais – não, ali já no estilo indiano onde tem que ficar agachada e rezar para as pernas agüentarem) perto do chão. Não entendi nada. Também não entendi a ausência de papel higiênico. Na verdade, ainda bem que não entendi na hora, porque se soubesse, provavelmente teria dado meia volta e pego o primeiro avião para Espanha.
Primeira lição de cultura indiana: papel higiênico é um luxo! Um muito caro. Culturalmente, se limpam com a mão esquerda (e só a esquerda) e depois, supostamente, a lavam muito bem (hehe, pude ver a careta de todas as mulheres.Blergh!). Segundo eles, é mais higiênico. Se lavam ali, na hora h mesmo, em vez de se limparem com papel higiênico, que deixaria resquícios e esperarem a hora do banho para a limpeza mais profunda.
O que me leva a outra explicação. Comem com a mão direita (e somente com a direita, já que a esquerda, conforme explicado anteriormente, é usada para outros fins). Agora, com toda a globalização, podemos ver alguns usando talheres, o que indica uma certa “casta” social, já que implica também o uso de papel higiênico (algo bastante caro para o consumo do indiano normal).
Agora, não me perguntem o que acontece se quebram um dos braços. Prefiro não pensar nas possibilidades. Por sorte não pensei nisso lá. Mas sim cheguei a pensar que embora não comam com a mão esquerda, me parece muito difícil descascar e cortar uma cebola, ou mesmo picar uma cenoura com uma só mão. Estou segura que usam as duas, mas, enfim....
Por sorte para nós, turistas, os indianos se aproveitam de qualquer mercado e fizeram do papel higiênico uma venda segura, se pode encontrar em cada esquina, embora seja, claramente, bastante mais caro do que o esperado para os preços hindus. Mas, enfim, uma glória.
Saí do banheiro já sem vontade de utilizá-lo. E lá fomos nós em busca das malas. Acho minha mochila, mas nada da mochila da Lu. Cinco, dez minutos e nada. Até que reparamos num monte de malas que, Deus saberá o porquê, alguns trabalhadores do aeroporto vão separando no chão, ao lado da esteira. Lá no meio está a mochila da Lu.
Seguimos caminho para fora do aeroporto em busca de um táxi. Ai, então sim quis dar meia volta e desistir de tudo. A multidão de indianos, ali fora esperando gente, a sujeira a cor cinzenta do ambiente, sei lá, tudo bastante ameaçador. Acabamos pegando um táxi, que não tinha marcação alguma de táxi com um homem que dizia saber o endereço de onde queríamos ir.
O que me leva a outra explicação. Segundo um amigo nosso, que vai todos os anos para a Índia, o lugar mais barato de ficar em Delhi, e também o mais próximo das compras é em Pahar Ganj. É a verdade. Só que mais ou menos uma semana antes da nossa viagem explodiram uma bomba ali. Nossos pais, que antes já estavam em pânico com nossa viagem para a longínqua Índia, ficaram ainda mais desesperados. Mas, afinal, qual a probabilidade de que duas bombas explodam no mesmo lugar com diferença de uma semana?
Total, o homem do táxi fajuto rodou um pouco com a gente e afinal nos largou em uma agência turística, já que “não sabia” onde estava o tal bairro. Na tal agência nos ofereceram chai ( o típico chá hindu, composto de canela, chá preto, leite, gengibre e cravo, entre outros), nos sentaram e tentaram vender os pacotes turísticos disponíveis.
Explicamos que na verdade estávamos em busca do tal bairro e que queríamos encontrar um amigo nosso. Demos o celular de nosso amigo e o atendente ligoue voltou a ligar. Nada, fora de área, inexistente, sei lá (depois chegamos à conclusão que tinha discado mal, só para nos enganar). No pânico pensamos, bom, pra onde queríamos ir depois? Dharamshala. E lá vai o simpático atendente ligar para a compañia de ônibus que vendia passagem para lá. Tudo lotado. Mas em compensação ele podia oferecer um pacote lindo para....
O que seria ótimo, mas tínhamos dinheiro pra o pressuposto não turístico, onde tudo é cobrado em dólares, não em rúpias. E não queríamos um pacote turístico, queríamos encontrar nosso amigo, que estaria em Delhi naquele dia e que nos daria algumas indicações. Mas, enfim, os indianos são os indianos, e a partir do momento que vêem que já não podem fazer você comprar qualquer coisa param de te dar atenção. E foi o que aconteceu. Quando ficou claro que não compraríamos nada, fomos educadamente expulsadas.
E lá fomos nós, totalmente perdidas (eu desesperada), de mochilas nas costas, sem saber o que fazer. Até que, andando, chamamaos a tenção de um grupo de indianos (nada anormal na Índia) que nos chamou um motorikshaw, nossa salvação. E esse sim nos levou ao tão buscado hotel e ao tão esperado bairro. O hotel caquético parecia um sonho, com privada alta, digna de ocidentais e televisão mini. Por pura sorte encontramos nosso amigo na recepção, que já começava a ficar preocupado com a gente. E não, ele não tinha recebido nenhuma ligação no celular.

Em seguida nos levou para dar uma volta por Pahar Ganj.Sabem aquelas fotos do trânsito caótico da Índia? Não são exageradas. Descobrimos que o instrumento preferido dos hindus é a buzina. E são todos barbeiros. Na verdade dentro do caos há certa ordem, afinal não vi muitos acidentes. A preferência é das vacas. Depois dos veículos maiores. Até chegar nos pedestres. O que me lembra aquele jogo da galinha tentando cruzar a rua. Porque foi assim que me senti.
As vacas e suas necessidades em plena rua são uma realidade. Assim como o cheiro de xixi. Sim, xixi, culpa das inesquecíveis paredes públicas encontradas a cada esquina voltadas exclusivamente para que os homens tirem “água do joelho”. Já imaginaram isso com chuva?
Ali provamos por primeira vez o lassi. Numa esquina imunda, um fogo ao aberto, mas o segundo melhor que provei ao longo dos seguintes 3 meses. O lassi é um batido típico da Índia feito a base de iogurte com fruta e mel. Nada de liquidificador, porque senão o iogurte perde a consistência. Tudo batido à mão, do modo mais natural possível. Enfim, uma delícia.
Não levamos nem um dia para nos dar conta de que não queríamos ficar por ali nem mais um segundo (e ficamos muito surpreendidas ao encontrar muitas vagas no ônibus para Dharamshala). Muita poluição. Até respirar era difícil. Fora já o trauma dos hindus tentando capturar a sua atenção, perguntando seu país de origem a cada dois passos, vendendo qualquer coisa e negociando tudo. E também o Delhi é boa para fazer compras, cada bolsa, sapato, colchas lindas de morrer e muito, muito baratas. Mas, isso fica para o final da viagem. Impossível carregar tudo nas costas junto com a mochila.
Índia...Incrível Índia
Se tem uma coisa que não gosto é de ir ao banheiro em avião. Cheira mal e me dá enjôo. Fora que tenho nojo e prefiro me agüentar. Ainda mais porque tinha acabado de fazer escala em Munich, e devo dizer, que depois de todas as minhas viagens posso votar, com segurança, no aeroporto de Munich como o mais limpo de todos.
Em Delhi não tive coragem de usar o banheiro. Isso porque estava muito apertada. Se me lembro bem, são 9 horas de vôo desde Munich até Delhi, ou seja, 9 horas desde que havia usado o banheiro por última vez. E o banheiro de Delhi não ajudou muito. Sujo é pouco perto daquilo. Ainda achei muito estranho porque tinha uma torneira, ao lado da privada (nada de privadas troninho – a grande satisfação dos ocidentais – não, ali já no estilo indiano onde tem que ficar agachada e rezar para as pernas agüentarem) perto do chão. Não entendi nada. Também não entendi a ausência de papel higiênico. Na verdade, ainda bem que não entendi na hora, porque se soubesse, provavelmente teria dado meia volta e pego o primeiro avião para Espanha.
Primeira lição de cultura indiana: papel higiênico é um luxo! Um muito caro. Culturalmente, se limpam com a mão esquerda (e só a esquerda) e depois, supostamente, a lavam muito bem (hehe, pude ver a careta de todas as mulheres.Blergh!). Segundo eles, é mais higiênico. Se lavam ali, na hora h mesmo, em vez de se limparem com papel higiênico, que deixaria resquícios e esperarem a hora do banho para a limpeza mais profunda.
O que me leva a outra explicação. Comem com a mão direita (e somente com a direita, já que a esquerda, conforme explicado anteriormente, é usada para outros fins). Agora, com toda a globalização, podemos ver alguns usando talheres, o que indica uma certa “casta” social, já que implica também o uso de papel higiênico (algo bastante caro para o consumo do indiano normal).
Agora, não me perguntem o que acontece se quebram um dos braços. Prefiro não pensar nas possibilidades. Por sorte não pensei nisso lá. Mas sim cheguei a pensar que embora não comam com a mão esquerda, me parece muito difícil descascar e cortar uma cebola, ou mesmo picar uma cenoura com uma só mão. Estou segura que usam as duas, mas, enfim....
Por sorte para nós, turistas, os indianos se aproveitam de qualquer mercado e fizeram do papel higiênico uma venda segura, se pode encontrar em cada esquina, embora seja, claramente, bastante mais caro do que o esperado para os preços hindus. Mas, enfim, uma glória.
Saí do banheiro já sem vontade de utilizá-lo. E lá fomos nós em busca das malas. Acho minha mochila, mas nada da mochila da Lu. Cinco, dez minutos e nada. Até que reparamos num monte de malas que, Deus saberá o porquê, alguns trabalhadores do aeroporto vão separando no chão, ao lado da esteira. Lá no meio está a mochila da Lu.
Seguimos caminho para fora do aeroporto em busca de um táxi. Ai, então sim quis dar meia volta e desistir de tudo. A multidão de indianos, ali fora esperando gente, a sujeira a cor cinzenta do ambiente, sei lá, tudo bastante ameaçador. Acabamos pegando um táxi, que não tinha marcação alguma de táxi com um homem que dizia saber o endereço de onde queríamos ir.
O que me leva a outra explicação. Segundo um amigo nosso, que vai todos os anos para a Índia, o lugar mais barato de ficar em Delhi, e também o mais próximo das compras é em Pahar Ganj. É a verdade. Só que mais ou menos uma semana antes da nossa viagem explodiram uma bomba ali. Nossos pais, que antes já estavam em pânico com nossa viagem para a longínqua Índia, ficaram ainda mais desesperados. Mas, afinal, qual a probabilidade de que duas bombas explodam no mesmo lugar com diferença de uma semana?
Total, o homem do táxi fajuto rodou um pouco com a gente e afinal nos largou em uma agência turística, já que “não sabia” onde estava o tal bairro. Na tal agência nos ofereceram chai ( o típico chá hindu, composto de canela, chá preto, leite, gengibre e cravo, entre outros), nos sentaram e tentaram vender os pacotes turísticos disponíveis.
Explicamos que na verdade estávamos em busca do tal bairro e que queríamos encontrar um amigo nosso. Demos o celular de nosso amigo e o atendente ligoue voltou a ligar. Nada, fora de área, inexistente, sei lá (depois chegamos à conclusão que tinha discado mal, só para nos enganar). No pânico pensamos, bom, pra onde queríamos ir depois? Dharamshala. E lá vai o simpático atendente ligar para a compañia de ônibus que vendia passagem para lá. Tudo lotado. Mas em compensação ele podia oferecer um pacote lindo para....
O que seria ótimo, mas tínhamos dinheiro pra o pressuposto não turístico, onde tudo é cobrado em dólares, não em rúpias. E não queríamos um pacote turístico, queríamos encontrar nosso amigo, que estaria em Delhi naquele dia e que nos daria algumas indicações. Mas, enfim, os indianos são os indianos, e a partir do momento que vêem que já não podem fazer você comprar qualquer coisa param de te dar atenção. E foi o que aconteceu. Quando ficou claro que não compraríamos nada, fomos educadamente expulsadas.
E lá fomos nós, totalmente perdidas (eu desesperada), de mochilas nas costas, sem saber o que fazer. Até que, andando, chamamaos a tenção de um grupo de indianos (nada anormal na Índia) que nos chamou um motorikshaw, nossa salvação. E esse sim nos levou ao tão buscado hotel e ao tão esperado bairro. O hotel caquético parecia um sonho, com privada alta, digna de ocidentais e televisão mini. Por pura sorte encontramos nosso amigo na recepção, que já começava a ficar preocupado com a gente. E não, ele não tinha recebido nenhuma ligação no celular.
Em seguida nos levou para dar uma volta por Pahar Ganj.Sabem aquelas fotos do trânsito caótico da Índia? Não são exageradas. Descobrimos que o instrumento preferido dos hindus é a buzina. E são todos barbeiros. Na verdade dentro do caos há certa ordem, afinal não vi muitos acidentes. A preferência é das vacas. Depois dos veículos maiores. Até chegar nos pedestres. O que me lembra aquele jogo da galinha tentando cruzar a rua. Porque foi assim que me senti.
As vacas e suas necessidades em plena rua são uma realidade. Assim como o cheiro de xixi. Sim, xixi, culpa das inesquecíveis paredes públicas encontradas a cada esquina voltadas exclusivamente para que os homens tirem “água do joelho”. Já imaginaram isso com chuva?
Ali provamos por primeira vez o lassi. Numa esquina imunda, um fogo ao aberto, mas o segundo melhor que provei ao longo dos seguintes 3 meses. O lassi é um batido típico da Índia feito a base de iogurte com fruta e mel. Nada de liquidificador, porque senão o iogurte perde a consistência. Tudo batido à mão, do modo mais natural possível. Enfim, uma delícia.
Não levamos nem um dia para nos dar conta de que não queríamos ficar por ali nem mais um segundo (e ficamos muito surpreendidas ao encontrar muitas vagas no ônibus para Dharamshala). Muita poluição. Até respirar era difícil. Fora já o trauma dos hindus tentando capturar a sua atenção, perguntando seu país de origem a cada dois passos, vendendo qualquer coisa e negociando tudo. E também o Delhi é boa para fazer compras, cada bolsa, sapato, colchas lindas de morrer e muito, muito baratas. Mas, isso fica para o final da viagem. Impossível carregar tudo nas costas junto com a mochila.
quarta-feira, 12 de março de 2008
O percurso
Descobri que viajar é uma arte, ainda mais se você estiver acompanhado da Lu, não recomendo a ninguém com problemas cardíacos. Ainda mais numa viagem longa como a nossa à Índia.
Nossa aventura começou quando pegamos o trem para Prat de Llobregat, que é a estação onde teríamos que trocar para chegar ao aeroporto. Chegando lá avisaram que os trens com origem e destinação ao aeroporto estavam tendo 20 minutos ou mais de atraso. Por via das dúvidas, fomos verificar o preço de um taxi e não é que enquanto estávamos do outro lado da estação, passa o trem? Conclusão, tivemos que pegar taxi de qualquer jeito!
A viagem para Munich foi bem tranqüila. Lá ainda tínhamos umas horas antes de embarcar no avião para a Índia. E não é que ao passar pela alfândega a Lu foi barrada? Só podia ser com a Lu mesmo!
Foi triste, falaram que ela não tinha permissão de estar ali, porque a extensão de visto que tinha conseguido 3 meses antes só permitia uma saída da Espanha e segundo eles ela estaria saindo duas vezes! Uma indo para Munich e a outra de Munich para a Índia.
Levaram a Lu, escoltada pelo carinha da alfândega, para uma sala da polícia e não me deixaram entrar! Pânico geral. Eu ainda tentando explicar que ela não falava muito inglês, mas os caras nem tchum. Já pensei que não iam deixar a Lu ir. Que teríamos que voltar para a Espanha, o que seria muito chato, porque tínhamos feito festa de despedida e tudo.
Sei lá quanto tempo passou. De vez em quando saía um policial porta afora e me olhava com cara estranha. Daí a um tanto o homem da alfândega voltou pra me dizer que era melhor eu sentar porque ia demorar um pouco. E ignorou todas as minhas tentativas de entender o que acontecia lá dentro. Depois de um tempo que parecia inesgotável, já em pânico, me ocorreu pegar num terço que minha vó tinha me dado. E comecei a rezar.
Ah, e descobri que a fé é muito importante nesses casos, é muito bom saber (ou crer) que tem alguém, ou algum poder superior ao seu, que possa interceder por você. Nossa, mal tinha acabado o primeiro Pai Nosso, me sai a Lu pela porta, não muito sorridente, mas enfim, podíamos seguir caminho.
Com a Lu tudo é uma surpresa, os alemães abriram um processo criminal contra ela, porque segundo eles ela estava ilegal ali! Isso porque tudo o que fez foi conseguir 3 meses a mais, legalmente na Europa. Nada como tentar ser honesto. O processo no final das contas era só um processo burocrático a mais que não deu em nada, por sorte.
Nossa aventura começou quando pegamos o trem para Prat de Llobregat, que é a estação onde teríamos que trocar para chegar ao aeroporto. Chegando lá avisaram que os trens com origem e destinação ao aeroporto estavam tendo 20 minutos ou mais de atraso. Por via das dúvidas, fomos verificar o preço de um taxi e não é que enquanto estávamos do outro lado da estação, passa o trem? Conclusão, tivemos que pegar taxi de qualquer jeito!
A viagem para Munich foi bem tranqüila. Lá ainda tínhamos umas horas antes de embarcar no avião para a Índia. E não é que ao passar pela alfândega a Lu foi barrada? Só podia ser com a Lu mesmo!
Foi triste, falaram que ela não tinha permissão de estar ali, porque a extensão de visto que tinha conseguido 3 meses antes só permitia uma saída da Espanha e segundo eles ela estaria saindo duas vezes! Uma indo para Munich e a outra de Munich para a Índia.
Levaram a Lu, escoltada pelo carinha da alfândega, para uma sala da polícia e não me deixaram entrar! Pânico geral. Eu ainda tentando explicar que ela não falava muito inglês, mas os caras nem tchum. Já pensei que não iam deixar a Lu ir. Que teríamos que voltar para a Espanha, o que seria muito chato, porque tínhamos feito festa de despedida e tudo.
Sei lá quanto tempo passou. De vez em quando saía um policial porta afora e me olhava com cara estranha. Daí a um tanto o homem da alfândega voltou pra me dizer que era melhor eu sentar porque ia demorar um pouco. E ignorou todas as minhas tentativas de entender o que acontecia lá dentro. Depois de um tempo que parecia inesgotável, já em pânico, me ocorreu pegar num terço que minha vó tinha me dado. E comecei a rezar.
Ah, e descobri que a fé é muito importante nesses casos, é muito bom saber (ou crer) que tem alguém, ou algum poder superior ao seu, que possa interceder por você. Nossa, mal tinha acabado o primeiro Pai Nosso, me sai a Lu pela porta, não muito sorridente, mas enfim, podíamos seguir caminho.
Com a Lu tudo é uma surpresa, os alemães abriram um processo criminal contra ela, porque segundo eles ela estava ilegal ali! Isso porque tudo o que fez foi conseguir 3 meses a mais, legalmente na Europa. Nada como tentar ser honesto. O processo no final das contas era só um processo burocrático a mais que não deu em nada, por sorte.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Experiencia do meio
Hoje, no trem (parece ser que as idas e vindas no trem me inspiram muito!) me dei conta do dia lindo que fazia. Um sol maravilhoso, penetrando pelo casaco. Um céu super azul. E um vento fresco batendo.
Olhei pela janela e vi a vegetaçao e a terra embaixo. E me deu vontade de tirar os sapatos, por os pés no chao e sair caminhando, sentindo o calor do solo nos meus pés. Coisa que sempre gostei de fazer no Matutu.
Então pensei por que será que a gente tem que dar tanta volta pra voltar ao princípio? Porque temos que rodar o mundo para descobrir onde a gente realmente quer estar? E sabe o que? Lembrei de uma frase, não sei quem a escreveu: "O fim é o início mais a experiência do meio."
Sempre voltaremos ao princípio, mas se a gente nunca saísse, não teríamos experiencias, não aprenderíamos nada, não daríamos valor.
O valor só se dá quando se sente falta, assim como se não há luz não hverá escuridão. As duas são necessárias e as duas se complementam porque são parte uma da outra. Assim somos nós. Completos, só não sabemos disso. E se o soubéssemos já, assim de cara, nunca existiria um fim. Porque nunca sairíamos do princípio.
Faz algum sentido?
Olhei pela janela e vi a vegetaçao e a terra embaixo. E me deu vontade de tirar os sapatos, por os pés no chao e sair caminhando, sentindo o calor do solo nos meus pés. Coisa que sempre gostei de fazer no Matutu.
Então pensei por que será que a gente tem que dar tanta volta pra voltar ao princípio? Porque temos que rodar o mundo para descobrir onde a gente realmente quer estar? E sabe o que? Lembrei de uma frase, não sei quem a escreveu: "O fim é o início mais a experiência do meio."
Sempre voltaremos ao princípio, mas se a gente nunca saísse, não teríamos experiencias, não aprenderíamos nada, não daríamos valor.
O valor só se dá quando se sente falta, assim como se não há luz não hverá escuridão. As duas são necessárias e as duas se complementam porque são parte uma da outra. Assim somos nós. Completos, só não sabemos disso. E se o soubéssemos já, assim de cara, nunca existiria um fim. Porque nunca sairíamos do princípio.
Faz algum sentido?
terça-feira, 4 de março de 2008
Banglassi
A minha maior viagem foi quando estive na Índia. Nunca fui muito de fumar. Meus amigos fumam, não tenho nenhum problema com isso, mas realmente, não faz muito meu estilo. Já fumei. Quem não o fez? Fumei mais porque todos fumavam, não por exatamente vontade própria, claro que tem um pouco de curiosidade também….
Entao, fui a Índia. Mais precisamente a Pushkar. E lá estávamos nós, eu e Lu. Um conhecido tinha explicado que em Pushkar podíamos encontrar o banglassi. Banglassi? É. um batido de iogurte com banana e supostamente semente de maria.Como já expliquei, nem faz muito meu estilo, mas afinal, estava na Índia. Onde mais ia provar disso? E ali, tudo é uma nova experiência. Pedimos um, médio, para dividir. Se era médio mesmo, ou se o cara erro na dose, nunca chegarei a saber. Mas a viagem, nossa, essa foi longa.
Tomamos o banglassi as 10 da noite. Passei a noite olhando pro teto, vendo muito, mas muito mais, que um ventilador e uma parede branca. Segundo expliquei à Lu no meio da noite, compreendi o universo. Não só compreendi o universo, lembrei que já sabia de tudo desde que era criança, e que tinha um nome para isso.
Outro dia recebi um email de um amigo. Era sobre a distância na potencia de 10. Primeiro o arquivo PPS ia se afastando da terra, depois entrava numa folha de árvore. Adentrava até chegar onde tudo não passava de uma tela preenchida com pontinhos cinzas. Na mesma hora pensei: “Ih, foi exatamente isso que ´vi `com o banglassi!”Vi o mundo feito de átomos. Vi cada átomo. Vi todos os átomos. Vi a mim e ao universo. Lembro da sensação do que vi. Não lembro exatamente o que vi, nem lembro o nome que dava a isso quando criança.
Passei a noite olhando para o teto, e no meio de risadas, descobri o universo. Passei o outro dia todo, deitada na cama, sem poder me levantar. Lu tentou me por num banho de agua fría, para ver se eu acordava um pouco. O banho ela conseguiu me dar, entre muitos risos e choros (abri o olho com champu na cabeça, claro que nem sabia que tinha passado champu), mas não conseguiu fazer que eu saísse do quarto.
Ela tentou, mas voltou em menos de 15 minutos. Ainda estava viajando também. Chegou na esquina e ficou com medo de se perder. É mais, já se sentia perdida.
Só fui conseguir me levantar no outro dia, ao meio dia, os olhos, extremamente vermelhos, a sensação do zumbido ainda presente em cada célula do meu corpo, me apoiando na Lu.
Sensação inesquecível essa, a de compreender o universo. Para que preocupar-se se tudo sempre saía exatamente de acordo com um plano maior? Na hora soube que tudo estava certo, estava indo para onde tinha que ir. Entendi que o universo fluía, e eu era parte do fluxo. Todos éramos parte do mesmo fluxo. Vi a vida e a função de cada átomo, de cada célula. E deixei de me preocupar.
Pena que a sensação dura para sempre, mas a compreensão em si, essa não passa de uma memória.
Entao, fui a Índia. Mais precisamente a Pushkar. E lá estávamos nós, eu e Lu. Um conhecido tinha explicado que em Pushkar podíamos encontrar o banglassi. Banglassi? É. um batido de iogurte com banana e supostamente semente de maria.Como já expliquei, nem faz muito meu estilo, mas afinal, estava na Índia. Onde mais ia provar disso? E ali, tudo é uma nova experiência. Pedimos um, médio, para dividir. Se era médio mesmo, ou se o cara erro na dose, nunca chegarei a saber. Mas a viagem, nossa, essa foi longa.
Tomamos o banglassi as 10 da noite. Passei a noite olhando pro teto, vendo muito, mas muito mais, que um ventilador e uma parede branca. Segundo expliquei à Lu no meio da noite, compreendi o universo. Não só compreendi o universo, lembrei que já sabia de tudo desde que era criança, e que tinha um nome para isso.
Outro dia recebi um email de um amigo. Era sobre a distância na potencia de 10. Primeiro o arquivo PPS ia se afastando da terra, depois entrava numa folha de árvore. Adentrava até chegar onde tudo não passava de uma tela preenchida com pontinhos cinzas. Na mesma hora pensei: “Ih, foi exatamente isso que ´vi `com o banglassi!”Vi o mundo feito de átomos. Vi cada átomo. Vi todos os átomos. Vi a mim e ao universo. Lembro da sensação do que vi. Não lembro exatamente o que vi, nem lembro o nome que dava a isso quando criança.
Passei a noite olhando para o teto, e no meio de risadas, descobri o universo. Passei o outro dia todo, deitada na cama, sem poder me levantar. Lu tentou me por num banho de agua fría, para ver se eu acordava um pouco. O banho ela conseguiu me dar, entre muitos risos e choros (abri o olho com champu na cabeça, claro que nem sabia que tinha passado champu), mas não conseguiu fazer que eu saísse do quarto.
Ela tentou, mas voltou em menos de 15 minutos. Ainda estava viajando também. Chegou na esquina e ficou com medo de se perder. É mais, já se sentia perdida.
Só fui conseguir me levantar no outro dia, ao meio dia, os olhos, extremamente vermelhos, a sensação do zumbido ainda presente em cada célula do meu corpo, me apoiando na Lu.
Sensação inesquecível essa, a de compreender o universo. Para que preocupar-se se tudo sempre saía exatamente de acordo com um plano maior? Na hora soube que tudo estava certo, estava indo para onde tinha que ir. Entendi que o universo fluía, e eu era parte do fluxo. Todos éramos parte do mesmo fluxo. Vi a vida e a função de cada átomo, de cada célula. E deixei de me preocupar.
Pena que a sensação dura para sempre, mas a compreensão em si, essa não passa de uma memória.
domingo, 2 de março de 2008
Vampiro
Quando se olhou no espelho nao viu reflexo. "Meu Deus", pensou, "virei vampiro!" Se sentou, com a cabeça entre as maos, segurando o choro, o nariz vermelho. "Vampiros nao choram! Agora terei que me alimentar só de sangue! E eu nem consigo ver sangue....Terei que morder um montao de gente e toda essa gente virará vampira. E morderao mais gente que também se transformará. E depois nao vai mais existir gente, só vampiros. E como nao teremos mais gente pra morder, passaremos a nos alimentar de ratos! Que nojo!!!!!
E quando nem os animais sobrarem? Morreremos todos de fome! Será que vampiros morrem? Talvez de va me matar agora mesmo, assim nada disso aconteceria... Como se matam vampiros mesmo? Balas de prata...Nao, muito violento e quem disse que tenho como conseguir um revólver? Estaca no coraçao...Talvez possa pedir pra um amigo fazê-lo....
Teria que deixar um bilhete pros meus pais explicando tudo....
Queridos pais, virei um vampiro...Nao sei bem como aconteceu, mas é a verdade. Quando vocês encontrarem esse bilhete, já estarei morto.
Nao, nao, nao quero morrer! Bem poderia me divertir um pouco antes...Posso ser um vampiro bonzinho, só mordo quando realmente necessito..Ou posso assaltar bancos de sangue!
"Menino, o que é que você está fazendo nessa escuridao?", pergunta a mae, abrindo a porta repentinamente, "Nao se vê nada! Abre as cortinas que já é dia!"
E quando nem os animais sobrarem? Morreremos todos de fome! Será que vampiros morrem? Talvez de va me matar agora mesmo, assim nada disso aconteceria... Como se matam vampiros mesmo? Balas de prata...Nao, muito violento e quem disse que tenho como conseguir um revólver? Estaca no coraçao...Talvez possa pedir pra um amigo fazê-lo....
Teria que deixar um bilhete pros meus pais explicando tudo....
Queridos pais, virei um vampiro...Nao sei bem como aconteceu, mas é a verdade. Quando vocês encontrarem esse bilhete, já estarei morto.
Nao, nao, nao quero morrer! Bem poderia me divertir um pouco antes...Posso ser um vampiro bonzinho, só mordo quando realmente necessito..Ou posso assaltar bancos de sangue!
"Menino, o que é que você está fazendo nessa escuridao?", pergunta a mae, abrindo a porta repentinamente, "Nao se vê nada! Abre as cortinas que já é dia!"
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Sonhos
Nao lembro de, quando criança, ter tido o sonho de conhecer algum lugar específico no mundo. Nao lembro de ter sonhado conhecer a África ou Grécia, Japao, França ou qualquer outro lugar. Pelo contrário. Lembro de dois sonhos. O primeiro, de morar pra sempre na minha casa, no meu refúgio, no eternamente encantado Matutu. Ali era meu lugar, minha vida. Só ali podia ser livre.
O segundo implicava abrir mao ou adiar o primeiro. Queria ser veterinária. E ali, nao seria possível.
Se as coisas tivessem acontecido de outra forma, é possível que eu tivesse desistido desse sonho. Mas nao saíram como eu planejei, e por tentar realizá-lo, e por motivos pessoais, saí do Mautu, com o coraçao na mao e olhando pra trás.
Esse também nao consegui cumprir. Nao demorei a me dar conta que nao era aquilo que queria da minha vida. Estar sentada em uma sala de aula, todo o dia, por 5 anos, a vida passando lá fora. Nao queria ver os animais sofrendo. Queria vê-los livres. Queria que estivessem no Matutu.
Levei 2 anos, de luta interna, para tomar coragem de, sem avisar a ninguém da sala por vergonha, trancar a faculdade.
Assim que eu, menina bicho do mato, sem grandes ambiçoes, vim parar na Espanha. E viajei para a Índia. E ao redor da Europa. E coisas que nunca havia sonhado aconteceram. E por nao sonhá-las, por nao esperá-las, me supreenderam muito mais.
Chamo isso de Lei de Murphy . Nao que se algo puder dar errado, dará. Nao. Acho que se algo pode ser diferente daquilo que a gente espera, será. Se sai errado? Acho que nao. Sai simplesmente diferente.
Porque se nao fosse assim, se tudo acontecesse conforme o esperado. Se nao houvessem dificuldades, onde estariam as surpresas? Onde estariam as surpresas? Também nao existiriam as aventuras. Mas acima de tudo, nao haveriam aprendizados.
O segundo implicava abrir mao ou adiar o primeiro. Queria ser veterinária. E ali, nao seria possível.
Se as coisas tivessem acontecido de outra forma, é possível que eu tivesse desistido desse sonho. Mas nao saíram como eu planejei, e por tentar realizá-lo, e por motivos pessoais, saí do Mautu, com o coraçao na mao e olhando pra trás.
Esse também nao consegui cumprir. Nao demorei a me dar conta que nao era aquilo que queria da minha vida. Estar sentada em uma sala de aula, todo o dia, por 5 anos, a vida passando lá fora. Nao queria ver os animais sofrendo. Queria vê-los livres. Queria que estivessem no Matutu.
Levei 2 anos, de luta interna, para tomar coragem de, sem avisar a ninguém da sala por vergonha, trancar a faculdade.
Assim que eu, menina bicho do mato, sem grandes ambiçoes, vim parar na Espanha. E viajei para a Índia. E ao redor da Europa. E coisas que nunca havia sonhado aconteceram. E por nao sonhá-las, por nao esperá-las, me supreenderam muito mais.
Chamo isso de Lei de Murphy . Nao que se algo puder dar errado, dará. Nao. Acho que se algo pode ser diferente daquilo que a gente espera, será. Se sai errado? Acho que nao. Sai simplesmente diferente.
Porque se nao fosse assim, se tudo acontecesse conforme o esperado. Se nao houvessem dificuldades, onde estariam as surpresas? Onde estariam as surpresas? Também nao existiriam as aventuras. Mas acima de tudo, nao haveriam aprendizados.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Aprendizado
Outro dia uma mulher foi mandada embora do trabalho. Faz pouco que estou lá, 3 semanas agora. Ainda nao a conhecia direito. Mulher tímida, cabeça sempre baixa, olhar arredio. Um pouco encurvada. Às vezes me parecia uma menina, às vezes uma senhora. Sempre com a mesma roupa, todos os dias.
Fui almoçar com ela apenas uma vez nesse tempo. Me impressionou que, ao contrário do que esperava, era uma mulher culta. Viajou por milhares de lugares, sozinha, acompanhada, como desse. Inglês fluente. Japonés também. Cursando universidade à distancia. Contente com o trabalho.
Perguntas superficiais. Me levaram a respostas inesperadas. Mulher divorciada. Com filho. Morando na casa dos pais. Mulher, mais uma, vítima de maus tratos por parte do marido. Mulher guerreira, capaz de se levantar de um casamento mal sucedido (quantas conseguiram?), superar um ano de depressao, levantar a cabeça e tentar seguir sua vida.
Meu filho me salvou, me disse. Porque se nao fosse por ele, nao teria saído, e quem sabe o que teria sido de mim. Venho sempre com essa blusa porque nao tenho outra. Mas ainda nao tenho vontade de comprar roupa nova. O dinheiro uso no meu filho.
Sua maneira de ser tomou outra forma para mim. Cada movimento passou a ter, a meu ver, uma carga emocional antes ignorada. E um aprendizado, doloroso, porém sempre presente, afinal, quem poderia esquecer?
Hoje o chefe veio nos explicar ligeiramente o porquê da demissao. Nao rendia muito. Nao tinha iniciativa. Muito calada. Demasiado tranquila.
Sua única preocupaçao, único objetivo, ser feliz.
Fui almoçar com ela apenas uma vez nesse tempo. Me impressionou que, ao contrário do que esperava, era uma mulher culta. Viajou por milhares de lugares, sozinha, acompanhada, como desse. Inglês fluente. Japonés também. Cursando universidade à distancia. Contente com o trabalho.
Perguntas superficiais. Me levaram a respostas inesperadas. Mulher divorciada. Com filho. Morando na casa dos pais. Mulher, mais uma, vítima de maus tratos por parte do marido. Mulher guerreira, capaz de se levantar de um casamento mal sucedido (quantas conseguiram?), superar um ano de depressao, levantar a cabeça e tentar seguir sua vida.
Meu filho me salvou, me disse. Porque se nao fosse por ele, nao teria saído, e quem sabe o que teria sido de mim. Venho sempre com essa blusa porque nao tenho outra. Mas ainda nao tenho vontade de comprar roupa nova. O dinheiro uso no meu filho.
Sua maneira de ser tomou outra forma para mim. Cada movimento passou a ter, a meu ver, uma carga emocional antes ignorada. E um aprendizado, doloroso, porém sempre presente, afinal, quem poderia esquecer?
Hoje o chefe veio nos explicar ligeiramente o porquê da demissao. Nao rendia muito. Nao tinha iniciativa. Muito calada. Demasiado tranquila.
Sua única preocupaçao, único objetivo, ser feliz.
Deus
Vejo rostos. Rostos nas sombras. Rostos nas nuvens. Inclusive em poças de agua. Rostos perdidos em pedras que encaram o horizonte. Ou montanhas cujo olhar se perde no céu azul. Vejo índios em manchas borrosas nos ladrilhos do banheiro. Anjos na janela embaçada. Fantasmas no escuro. Seres dançantes na fogueira. Vejo rostos se transformando quando os olhos se esquecem de piscar e tudo se torna escuro ao redor.
Ouço vozes no escuro. Ouço o sorriso do vento. O tranquilizante som das ondas do mar. Ouço a cachoeira molhando-me. A diversão das crianças no parque. O barulho das obras. O ladrar de um cachorro. O vaivém das pessoas. Ouço as árvores festejando a chuva e os passarinhos regozijando-se com o sol.
Sinto o perfume das flores. O cheiro do mar. Sinto o calor envolvendo meu corpo num dia de sol. Sinto o sabor salgado das lágrimas em um dia mais profundo. Me emociono com cenas tontas na TV. Me emociono com as crianças que morrem de fome na África. Me arrepio com uma história feliz. Sinto medo. Sinto saudade.
Ouço vozes no escuro. Ouço o sorriso do vento. O tranquilizante som das ondas do mar. Ouço a cachoeira molhando-me. A diversão das crianças no parque. O barulho das obras. O ladrar de um cachorro. O vaivém das pessoas. Ouço as árvores festejando a chuva e os passarinhos regozijando-se com o sol.
Sinto o perfume das flores. O cheiro do mar. Sinto o calor envolvendo meu corpo num dia de sol. Sinto o sabor salgado das lágrimas em um dia mais profundo. Me emociono com cenas tontas na TV. Me emociono com as crianças que morrem de fome na África. Me arrepio com uma história feliz. Sinto medo. Sinto saudade.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Infância
Tenho lembranças de uma infância quase perfeita. Quase, por alguns pontos obscuros e não merecedores de atenção nesse momento. Uma infância livre em um refúgio terrestre, refúgio esse que até hoje, mesmo longe há uns 7 anos, sigo chamando casa.
As pessoas se espantam ao saber que cresci com onças comendo carneiros e matando outros tantos de susto. Com cobras entrando em casa. Esquilos roubando brownie. E pássaros batendo a cabeça contra o vidro. Cresci andando a cavalo. Cresci correndo montanha abaixo. Tomando banhos de cachoeira no inverno. Acampando no quintal de casa. Cresci vendo castelos de bruxa em simples cupinzeiros. Vendo discos voadores em pedras cobertas de musgos.
A primeira vez que fui ao Matutu, ainda menina carioca, viciada em revistinhas da Mônica, perguntei a minha mãe se todos ali eram parentes do Chico Bento. Em alguma época, quase esquecida, lembro de ter falado "uai" e "sô", mas fora isso, nunca cheguei a ter o característico sotaque mineiro.
Nunca esqueço da escuridão das noites sem lua. E eu sempre tive medo do escuro, medo do que não podia ver e que ouvia atrás de mim. Pelo menos aprendi a conviver com esse medo, acostumada a voltar da casa das minhas amigas rezando todos os Pai Nosso e Ave Maria possíveis ao longo do caminho. Correndo na entradinha de casa e entrando com um portaço, me escondendo dos seres de fora. Quando me sentia muito corajosa, me forçava a andar e abrir a porta devagar, coraçao acelerado, sem olhar pra trás. Poucas vezes fui capaz de fazê-lo.
As festinhas, às escondidas, na escola, à luz de velas (quantos anos até chegar a eletrecidade?) e lampiões. E A Vez que fomos surpreendidos! Essa passou para a história dos que estavam presentes. E dos que não estavam também.
Pus o nome a uma pedra. Pedra Borboleta. E ali, todos a conhecem , em frente da minha casa. Ponto de encontro. E, ah, se pedras falassem...Melhor que não o façam! Anos depois, conversando com uma amiga, lembrei o porquê do nome. Afinal, por que borboleta? Assim queria chamar meu cavalo, se um dia o tivesse. Mas quando finalmente o tive, o chamei Trovão. E embora fosse louco, empinasse e se jogasse no chão, me arrependi muitíssimo de tê-lo vendido.
Não tínhamos televisão. Não tínhamos computador. Nem videogames. Nas noites de lua brincávamos de uivar. Nas noites sem lua brincávamos de vampiros. Em noites comuns, polícia e ladrão, adentrando-nos nas matas, escondendo-nos entre as árvores. Até que eu, numa noite desafortunada, meti a mão numa inesperada árvore de espinhos. De ali em diante só fiquei de guarda, plantada perto da prisão (um pequeno círculo de árvores), quando as meninas eram polícias (sempre jogávamos meninas contra meninos), para gritar quando vinha algum menino escorregadio (tiravam as blusas e saíam cheios de arranhões) vinha soltar a outro.
Na subida da escola, em dias de muito calor, parávamos na cachoeira, fazíamos fogueira e assávamos pinhões. Ou assaltávamos pitangas, limões e amoras a caminho de casa. E só voltávamos já no final da tarde, para desespero dos pais, que ainda tentaram colocar regras pra nos controlar.
Se provou impossível. Enfim, éramos livres. Pés descalços no chão de terra e sonhos espelhados no céu.
As pessoas se espantam ao saber que cresci com onças comendo carneiros e matando outros tantos de susto. Com cobras entrando em casa. Esquilos roubando brownie. E pássaros batendo a cabeça contra o vidro. Cresci andando a cavalo. Cresci correndo montanha abaixo. Tomando banhos de cachoeira no inverno. Acampando no quintal de casa. Cresci vendo castelos de bruxa em simples cupinzeiros. Vendo discos voadores em pedras cobertas de musgos.
A primeira vez que fui ao Matutu, ainda menina carioca, viciada em revistinhas da Mônica, perguntei a minha mãe se todos ali eram parentes do Chico Bento. Em alguma época, quase esquecida, lembro de ter falado "uai" e "sô", mas fora isso, nunca cheguei a ter o característico sotaque mineiro.
Nunca esqueço da escuridão das noites sem lua. E eu sempre tive medo do escuro, medo do que não podia ver e que ouvia atrás de mim. Pelo menos aprendi a conviver com esse medo, acostumada a voltar da casa das minhas amigas rezando todos os Pai Nosso e Ave Maria possíveis ao longo do caminho. Correndo na entradinha de casa e entrando com um portaço, me escondendo dos seres de fora. Quando me sentia muito corajosa, me forçava a andar e abrir a porta devagar, coraçao acelerado, sem olhar pra trás. Poucas vezes fui capaz de fazê-lo.
As festinhas, às escondidas, na escola, à luz de velas (quantos anos até chegar a eletrecidade?) e lampiões. E A Vez que fomos surpreendidos! Essa passou para a história dos que estavam presentes. E dos que não estavam também.
Pus o nome a uma pedra. Pedra Borboleta. E ali, todos a conhecem , em frente da minha casa. Ponto de encontro. E, ah, se pedras falassem...Melhor que não o façam! Anos depois, conversando com uma amiga, lembrei o porquê do nome. Afinal, por que borboleta? Assim queria chamar meu cavalo, se um dia o tivesse. Mas quando finalmente o tive, o chamei Trovão. E embora fosse louco, empinasse e se jogasse no chão, me arrependi muitíssimo de tê-lo vendido.
Não tínhamos televisão. Não tínhamos computador. Nem videogames. Nas noites de lua brincávamos de uivar. Nas noites sem lua brincávamos de vampiros. Em noites comuns, polícia e ladrão, adentrando-nos nas matas, escondendo-nos entre as árvores. Até que eu, numa noite desafortunada, meti a mão numa inesperada árvore de espinhos. De ali em diante só fiquei de guarda, plantada perto da prisão (um pequeno círculo de árvores), quando as meninas eram polícias (sempre jogávamos meninas contra meninos), para gritar quando vinha algum menino escorregadio (tiravam as blusas e saíam cheios de arranhões) vinha soltar a outro.
Na subida da escola, em dias de muito calor, parávamos na cachoeira, fazíamos fogueira e assávamos pinhões. Ou assaltávamos pitangas, limões e amoras a caminho de casa. E só voltávamos já no final da tarde, para desespero dos pais, que ainda tentaram colocar regras pra nos controlar.
Se provou impossível. Enfim, éramos livres. Pés descalços no chão de terra e sonhos espelhados no céu.
A criaçao
O pensamento de escrever um blog me ocorreu hoje, no trem, ipod tocando, vindo pro trabalho. Sempre quis escrever, idéias nao faltam, o que falta é prática, e finalmente, pensei, que talvez um blog fosse uma boa experiência.
Pensei em um trilhão de coisas, das quais, por não ter papel e caneta em mãos, acho que não lembro mais de nenhuma. Mas como já disse, idéias não faltam.
Algumas pessoas me dizem que vivo no mundo da lua. Não, vivo nesse mundo mesmo. Nesse e em mais alguns. Vivo em milhares de possibilidades para o momento presente. Vivo com memórias do passado, memórias de eventos reais, mas também de eventos imaginários. Vivo num mundo meu, mas criado a partir desse. A imaginção nos faz livres. Posso estar em um trem, fisicamente, mas quem sabe, só de olhar, onde realmente estou? Talvez em lugares que conheci, ou lugares desconhecidos, de céus verdes e águas vermelhas. Quem sabe?
Gosto de sentir o momento. Adoro sentir o vento tocando meu rosto e embaraçando meu cabelo (tá, talvez essa parte não seja tão boa para um cabelo rebelde como o meu, mas a sensação segue sendo ótima). Gosto de sentir a chuva, molhando, limpando a alma. Adoro ouvir o rugido do mar e o som dos trovões. Acho que são formas da natureza nos lembrar que está ali, e que fazemos parte dela.
Sim, porque quantos de nós prestamos atenção naquela árvore encurvada da esquina? Naquela em que cada mínimo milímetro fez uma força descomunal para crescer, indo contra a força da gravidade. Na pequena flor que nasce no meio do cimento, sabe-se lá surgida de onde. Ou entao no céu tocando o mar, espelhando-se, confundindo-se. Enfim, em cada momento, em cada respiro, em cada sorriso.
Assim que hoje, no trem, escutando música, olhei para as pessoas ao meu redor e só vi máscaras. Alguns sorrindo, outros sérios, outros como eu, tendo como companhia a solidão de um mp4. Mas dentro, lá dentro, fui incapaz de ver o que eram. Ou o que sentiam. Aquela mulher, tão séria, com o dedão machucado, estaria pensando em seus problemas, ou lembrando de momentos felizes? A menina, dormindo a seu lado, com que sonharia? Ou o homem, ao meu lado, movendo-se nervosamente, estaria prestes a ter uma importante reunião de negócios, ou seria sempre assim?
Me pergunto se todas essas perguntas passam na cabeça de todos nós, incapazes de estarmos sozinhos com nosso silêncio interior. Ou não, talvez sejam loucuras da minha cabeça, e sendo assim, por que não compartí-las....?
Pensei em um trilhão de coisas, das quais, por não ter papel e caneta em mãos, acho que não lembro mais de nenhuma. Mas como já disse, idéias não faltam.
Algumas pessoas me dizem que vivo no mundo da lua. Não, vivo nesse mundo mesmo. Nesse e em mais alguns. Vivo em milhares de possibilidades para o momento presente. Vivo com memórias do passado, memórias de eventos reais, mas também de eventos imaginários. Vivo num mundo meu, mas criado a partir desse. A imaginção nos faz livres. Posso estar em um trem, fisicamente, mas quem sabe, só de olhar, onde realmente estou? Talvez em lugares que conheci, ou lugares desconhecidos, de céus verdes e águas vermelhas. Quem sabe?
Gosto de sentir o momento. Adoro sentir o vento tocando meu rosto e embaraçando meu cabelo (tá, talvez essa parte não seja tão boa para um cabelo rebelde como o meu, mas a sensação segue sendo ótima). Gosto de sentir a chuva, molhando, limpando a alma. Adoro ouvir o rugido do mar e o som dos trovões. Acho que são formas da natureza nos lembrar que está ali, e que fazemos parte dela.
Sim, porque quantos de nós prestamos atenção naquela árvore encurvada da esquina? Naquela em que cada mínimo milímetro fez uma força descomunal para crescer, indo contra a força da gravidade. Na pequena flor que nasce no meio do cimento, sabe-se lá surgida de onde. Ou entao no céu tocando o mar, espelhando-se, confundindo-se. Enfim, em cada momento, em cada respiro, em cada sorriso.
Assim que hoje, no trem, escutando música, olhei para as pessoas ao meu redor e só vi máscaras. Alguns sorrindo, outros sérios, outros como eu, tendo como companhia a solidão de um mp4. Mas dentro, lá dentro, fui incapaz de ver o que eram. Ou o que sentiam. Aquela mulher, tão séria, com o dedão machucado, estaria pensando em seus problemas, ou lembrando de momentos felizes? A menina, dormindo a seu lado, com que sonharia? Ou o homem, ao meu lado, movendo-se nervosamente, estaria prestes a ter uma importante reunião de negócios, ou seria sempre assim?
Me pergunto se todas essas perguntas passam na cabeça de todos nós, incapazes de estarmos sozinhos com nosso silêncio interior. Ou não, talvez sejam loucuras da minha cabeça, e sendo assim, por que não compartí-las....?
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