quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Quando era criança tudo parecia ser mais fácil. Não tinha que me preocupar com as contas do fim do mês, com ter trabalho, com a comida, enfim, com nada. Tinha só que ser feliz. Mas a gente cresce, todo mundo o faz, mais cedo ou mais tarde. De alguma maneira tentei me preparar para o ser gente grande.
Parece não adiantar muito, por mais que um se prepare, a vida sempre surpreende. Basta ter alguma certeza, a vida vem e a tira. Basta ter algum plano, a vida vem e o desfaz. Passamos a viver preocupados, a cabeça sempre cheia de poréns e talvez, esquecendo que na verdade tudo o que se precisa é voltar a ser como criança, só se preocupar em ser feliz.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

La vamos nos de novo. Nem ideia de por onde comecar. Da ultima vez que escrevi ainda estava nas brancas areias de Gokarna. Depois de duas semanas de sol e mar peguei um tardio trem a Cochin. Tardio porque foram 5 horas de atraso, ate que pouco para a India. E apesar do atraso chegamos nao muito mais tarde do que o esperado. O bom da espera e que a gente aproveita para conhecer gente.

De Cochin, com uma nova companheira de viagem, parti para o ashram da Amma. Chegamos sob intensa e bem vinda chuva. Ja do outro lado da ponte se podem ver os altos predios rosa, parecendo totalmente fora do lugar em meio as palmas, coqueiros e casas de pescador. E ao entrar, toda aquela multidao. Quase uma cidade. Aqueles que se deixam levar pela primeira impressao vao embora ja no dia seguinte sem conseguir sentir o espirito do ashram. Mas e so dar uma oportunidade, alguns dias e tudo comeca a ter mais sentido.

O primeiro abraco, para quem nunca teve um antes, tambem e estranho. Um fila interminavel, maos que te empurram na posicao correta por apenas uns segundos, te puxam quando os segundos ja terminaram e te empurram de novo para longe da fila. Voce so fica com o cheiro a rosas e a pequena bala dada pelas maos da Amma. E se pergunta qual e o sentido de tudo aquilo.

Dai voce comeca a fazer seva, comecei levando de um lado para o outro os pedidos da cafeteria. Karma de garconete. Depois troquei e fui lavar louca. Da maneira de ashram. Varias bacias e varias pessoas. Os pratos vao passando da bacia mais engordurada ate a limpa e cada um faz sua parte. Fora a meditacao na praia. Somos encorajados a faze-la duas vezes por dia, das 06:30 as 07:30 e das 17:30 as 18:30. Um paz incrivel, todos se reunindo num mesmo lugar com o mesmo proposito, todos em silencio, observando a si mesmos.

Ainda dei a sorte que a Amma estava no ashram pelo qual alem das meditacoes e sevas, tinha os abracos, os ensinamentos e o bhajans, musicas devocionais. E a presenca dela, claro, isso ja e suficiente. Cada abraco, embora dure os mesmos milesimos de segundo, parecem mais amorosos e mais longos.

Enfim, depois de uns 10 dias de vida de ashram resolvi mudar meus planos, que eram de seguir para Tirunvamalai e descer com uns amigos ate o extremo sul da India, Kanyakumari, o lugar onde se pode ver o sol nascer e se por no mar. Mais um lugar de peregrinacao, mas nesse caso indiana mesmo, nada turistico. Uma cidade feia e suja, num lugar espetacular e mal aproveitado. Mas valeu a pena, o sol veio e se foi e pudemos ver cada centimetro de cada momento.

De Kanyakumari fomos a Rameswaram, a quarta maior cidade de peregrinacao hindu,o ponto mais perto do Sri Lanka. O lugar onde Hanuman ergueu a "ponte" unindo a India ao Sri Lanka para salvar Sita das maos de Ravana. Historias do hinduismo. E teriamos ja ido ao Sri Lanka se as fronteiras maritimas nao estivessem fechadas. Mas estavam, agora, depois de todos os conflitos de la, so de aviao mesmo. Estivemos a 30km e nao pudemos ver. Coisas da India. Mas tambem valeu a pena, outra cidade feia de peregrinacao hindu, mas num mar azul cristalino, o primeiro tao transparente que vejo na India, que geralmente tem o mar escuro.

Subiremos mais, ate Chennai e de la pegaremos o aviao ao Sri Lanka. Se os planos nao mudam, claro, porque ja sabem, na India, Sapkuti Milega, Tudo e Possivel!