quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Depois de longas 12 horas de viagem, finalmente chegamos a Rishikesh. Deixa eu contar algo sobre o que e viajar de onibus na India...Pense no que seria entrar em um liquidificar e talvez consigar imaginar o que e. Parece ser que os freios so funcionam em horas pre-determinadas, nao consigo achar outra explicacao. A velocidade e constante, vai buraco, vem buraco, desvia de carros, gente e vacas, nao interessa, o freio nao e usado. E la vai voce sacudindo, sem parar, nada de suspensao a ar ou coisas do genero. E pra quebrar a coluna de qualquer um. E mesmo viajando a noite, dormir que e bom, muito dificil.

E ainda por cima Dharamshala tem um unico defeito. O chegar e o ir embora. Pensem que e uma cidade no meio das montanhas, la no alto. Quase a Serra de Petropolis, curvas e mais curvas em alta velocidade. E la vai voce, olhos fechados e mao no estomago: Vomito? Nao, agora nao.. Ih, acho que agora vai! Nao, acaba que nao... E assim por diante. A primeira parada e chegar ao paraiso. Terra firme e ate janta sendo oferecida. Mas quem, em sa consciencia, consegue jantar com o estomago tao embrulhado?

Algumas horas de viagem e mais um pit stop para usar o banheiro. E algumas outras horas e voce nao ve a hora de parar de novo para voltar a fazer xixi (te digo, isso de sacudir muito faz as aguas do corpo baixarem). E nada de parar. Voce ja ta quase gritando, para pelo amor de Deus, e nada. Ah, enfim, uma parada. No meio do nada, alguem vai descer. Escuta, pergunto eu, olhando em volta, nao tem banheiro por aqui nao? Nao, respondem. E vai ter alguma outra parada para usar o banheiro, volto a perguntar. Tem nao. Ah, o matinho e uma otima opcao. E sai todo mundo do onibus (pelo menos nao sou a unica) e o matinho escondido vira um banheiro femenino ao ar livre.

Tres horas mais e chegamos a Rishikesh. Ver o Ganges limpinho ja vale a pena todo o sacrifiio da viagem. Aguas verdinhas e calor para compensar o frio passado no onibus (me salvou meu cobertorzinho tibetano). Largamos as mochilas em um hotel que nao gostamos e vamos em busca de algum lugar melhor. Preferencialmente um ashram. Depois de muito andar encontramos um, que seria legal se nao quisessemos fazer mais nada alem da yoga, porque tem um schedule fixo e tres comidas incluidas. Mas, honestamente, queremos passear, comer fora, sei la. Procuramos mais. Vamos ate a proxima ponte, ali, com calor, sentamos na beira do Ganges e colocamos os pes dentro. Ate vi peixes saltando. No final resolvemos ficar num hotel pequenino e voltar a procurar um ashram com mais calma e menos cansadas.

Ao entardecer fomos a uma Puja (como um ritual de oferendas) ao rio Ganges. Um montao de gente reunida cantando mantras e oferecendo velas e flores ao rio. Um espetaculo. Ao mesmo tempo e na frente, um casamento. Os mantras da Puja e a musica do casamento lutando entre si para serem escutados. No casamento todos muito bem vestidos. Ate fogos de artificio. Claro que ficamos ate bem depois de terminada a Puja na expectativa de ver a noiva. Afinal, aquele nao era um casamento qualquer. La estavamos nos, ainda esperando ate que uma se da conta que no lugar da noiva ha uma estatua. Espantadas perguntamos a alguem se aquilo nao e um casamento. Um casamento com Deus, respondem. Mais espantadas ainda ficamos, imaginando um homem casando com uma estatua e fazendo toda uma comemoracao para anunciar. Nao aguentando mais de curiosidade chegamos perto. E no lugar do noivo, uma outra estatua. Voltamos a perguntar. Um casamento entre os deuses, explicam, o casamento entre Krishna e Radha. Um casamento entre estatuas! Enfim...coisas da India!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Bom, ultimo dia em Dharamshala. Ate meio estranho pensar em ir embora. Um mes aqui e ainda poderia ficar mais, tranquilamente. Tanto para se aprender! E muito facil se apegar a essa cidadezinha tibetana. Mas hoje mesmo pego o onibus noturno para Rishkesh. Pelo menos uma semana de aulas de yoga me espera por la. E quem sabe algum outro curso terapeutico...

Fora um lindo Ganges, um clima nao tao frio...E bom, alguma hora a India tinha que comecar. Porque Dharamshala nao e India. E Tibet na India. E muito mais facil, quase ferias mesmo. Ninguem te enchendo de perguntas, muito mais sorrisos. E ainda tem os Himalayas. Algo a repeito dessas montanhas. E incrivel como tem algo de poder nelas. Parecem destacar-se no ceu azul. Quase tem vida proprias, as vezes ate parecem respirar. Fora outra coisa. Parece ser que nos lugares de força sempre existem aguias. Pois aqui o que nao falta sao aguias. Sempre ha uma, ou duas, ou tres sobrevoando nossas cabecas. E corvos.

Ontem foi a ultima aula de massagem, ganhei outro lindo diploma. Ainda mais bonito que o de culinaria. E depois ainda fiz uma aula de Balancing Body, uma antiga tecnica tibetana que equilibra a energia e os elementos do corpo. Uma delicia. Sei de gente que vai adorar e ainda ajuda a equilibrar a temperatura do corpo (principalmente das pessoas que sempre tem pes e maos frios).

Quando fui fazer o check out da Guest House tive um pequeno problema. Quando entrei entedi que me cobrariam 200 rupias por dia. Pois hoje, na hora de pagar querem me cobrar 300 por dia. O cara comeca a gritar comigo. Enfim, sai pagando o que tinham me dito. Mas claro, fico com aquela sensacao de algo mal terminado. Assim que umas duas horas depois volto a Guest House, entendendo que provavelmente houve um mal entendido e ponho 250 rupias a mais. E me sinto melhor, porque converso mais calmamente com o recepcionista e ele ja nao grita comigo.

Em janeiro havera um Kumba Mela em Rishikesh. Uma palavrinha sobre o que e O Kumba Mela. Uma peregrinagem que acontece mais ou menos 1 vez a cada 3 anos. Milhoes de sadhus e gurus de toda a India se reunem em um mesmo lugar. Muitos deles deixaram tudo para tras e vivem em cavernas. Depois de 12 anos se faz o Maha Kumba Mela, que e a maior reuniao de pessoas com proposito religioso em todo o mundo.

Eu ja o sabia antes de vir pra India, mas tinha feito outros planos. Mas claro, na India nao se pode planejar muita coisa... Ela meio que te leva para onde voce deve ir. Pois ja comeca a passar pela minha cabeca nao ir para o sul depois do Nepal e sim ir para o Kumba Mela. Afinal quantas vezes na vida se pode ver tantas pessoas dedicadas a Deus (e tantos impostores, claro) em um mesmo lugar! O sul poderia ficar para depois...Ate porque entao daria tempo de fazer algum voluntariado no Nepal. Ai, ai, nada como viajar pela India. Desapego e a palavra para definir.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mais um entrada rapida...Hoje, mais um lindo dia de sol, feriado tibetano em Dharamshala. Fui com duas amigas a comemoracao dos 49 anos da inauguracao da TIbetan Childrens Village, a melhor escola tibetana de toda a India, e a primeira foi fundada aqui.

Saimos cedo, uma linda caminhada, lindas fotos com os Himalaias no fundo. Chegamos a tempo de um discurso em tibetano de uma hora e meia que nao pudemos entender, claro. E finalmente a aprensentacao dos alunos dancando. Bom, eu perdi uma parte, porque depois de uma hora e meia de discurso no sol precisei encontrar um banheiro, e claro, Lei de Murphy, no momento em que sai as apresentacoes comecaram.

Quando terminou ja era hora do almoco e descobrimos um lindo salao com um quantidade enorme de comida gratis. Entramos todas e comemos ate nos fartar, achando tudo aquilo muito estranho, mas enfim... Bom, quando terminamos e saimos encontramos um amigo americano e descobrimos que aquela era a area VIP, so para convidados. Ou seja, fomos de penetra, e valeu cada segundo.

Sentamos a meia sombra de uma frondosa arvore, cercadas de tibetanos e mais tibetanos e pudemos apreciar os bailes e cantos tipicos das diversas regioes do Tibet. Devo dizer que foi lindo. E que os tibetanos sao lindos. Cada um deles, ate os desdentados.

Algo interessante para se pensar. A India permitiu que os tibetanos se instalassem aqui. Abriu as portas para todos os refugiados do Tibet, todos que quiseram vir, sem excecao. Acho que nenhum outro pais jamais fez isso. Abrir as portas assim para outra cultura. E os tibetanos o agradecem. De verdade. Alem da bandeira do Tibet e da bandeira da India, uma outra bandeira, logo atras do palco com letras bem grandes: Thank you India!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Hoje faco uma entrada rapida. Por onde comeco? Finalmente consegui mudar de Guest House. Para uma sem aranhas e sem gente estranha. A ultima apelidei de Crrepy Guest House. A nova se chama Freedom Palace. E embora nao tenha televisao tem uma linda maravilhora vista do nascer do sol. Um comentario sobre o nascer e o por do sol na India. Nada parecido com os do Brasil. Nada de ceu pintado de milhares de inumeraveis cores. Nada, apenas uma bola de fogo saindo num ceu azul. Nao que seja feio, claro, porque um nascer do sol feio e quase impossivel.

Ontem fui dar um passeio pelas montanhas com uma amiga. 3 horas de caminhada intensa, uma subida espantosa, vistas incriveis, ate chegar ao topo da montanha. Um lindo dia de sol (estou ate morena!! Na verdade, queimada, mas enfim...). No topo um pequeno lugar para relaxar e tomar um chai enquanto se aprecia a vista. E fazer aulas de frances. Sim, porque estou aprendendo frances e ensinando portugues. Nao e otimo poder viajar e aprender? Unir o util ao agradavel? Ficamos la em cima, com o ar puro e fresco por algumas horas e entao tomamos coragem e enfrentamos as 3 horas do caminho de volta. Por sorte um lindo caminho embora eu morresse de vontade de ir ao banheiro em pelo menos metade dele. Ate teria entrado um pouco na natureza, mas sempre tinha gente passando e nao me pareceu uma otima ideia correr o risco. Sei que hoje alem de queimada tenho uma gigantesca bolha no meu dedao direito. Parece que meu nike nao e resistente a India.

Hoje tambem foi mais um dia de ensinamentos do Dalai Lama. Exceto que hoje ele falou em ingles. Estavamos super contentes que nao precisariamos do radinho, nada de transmissao, simplesmente a voz dele no alto falante. E, felicidade parece nao durar muito, nem mesmo na India. Ao nosso lado havia uma tradutora russa. E a gente ja sabe como sao os russos, nao particularmente discretos. Me pergunto como o Dalai Lama nao a ouviu la do outro recinto. Tivemos que ligar o radinho de novo e buscar a transmissao dele para conseguir entender algo. So posso descreve-lo de uma maneira: fofo. Ele e um amor, a voz emana amor, ele emana carinho e docura. O vejo e me arrepio inteira, meus olhos se enchem de agua. Assim por nada, por meio minuto ao ve-lo subindo e descendo as escadas. Enfim, abaixo escrevo um pouco mais do que pude anotar dos ensinamentos:

A principal causa do sofrimento humano e a ignorancia. Alem disso estao a acao e a motivacao. A motivacao e o principal causador de acoes tanto fisicas quanto mentais. Segundo o budismo o conhecimento e a sabedoria sao as melhores maneiras de combater a ignoranca. Nao basta so ter fe, tem que por em pratica no dia-a-dia tudo aquilo que se aprende. BUdha ensina o caminho, mas cabe a cada um a responsabilidade e o esforco de segui-lo.

Porque temos um sentido do "eu" experimentamos dor, sofrimento e prazer. A experiencia mental e mais forte que a experiencia fisica. E possivel "overdue" o sofrimento no plano fisico com a devida atitude mental, porem e impossivel "subdue" o sofrimento mental com o conforto fisico.

Quando desenvolvemos "Awareness" consegue-se, pouco a pouco, eliminar as causas do sofrimento. Porque nao ha mais identificacao. Eliminando o sofrimento se chega a "Ultimate Reality".

Quanto mais compaixao temos, menos pensamentos e acoes negativos. Existem 3 motivos para nao cometermos acoes negativas: um e o medo da lei que nos punira, outro e o medo das consequencias que teremos que pagar por nossas acoes e o terceiro e a compaixao. Se amamos aos outros como as nos mesmos, nao cometeremos acoes negativas porque estariamos nos auto ferindo.

The Right Will is a solid base.

Bom, isso foi o que consegui anotar. Depois dos ensinamentos fui a minha primeira aula de massagem tibetana. Senti ate vontade de voltar ja pra casa para colocar em pratica. Mas, nossa, que exercicio viu? A forca, a concentracao, e eu suava. Iss porque nem da tempo de praticar tanto assim! Enfim, descobri que adoro massagens e adoro a India. Terei mais um diploma para a minha nova colecao!

Um ultimo comentario antes de me despedir. Viajar para a India aprece ser um eterno processo de desapego para uma mulher viajando sozinha. So ao vir voce ja esta abrindo mao do conforto, da seguranca e muitas vezes do respeito. E ao nao criar novos apegos/expectativas os antigos vao surgindo e sendo eliminados naturalmente. A India em si e um eterno trabalho de limpeza interna (em todos os sentidos), de aceitacao, de entrega e de fe. Por isso mexe tanto. Aqui parece ser o unic lugar do mundo onde levam 1 hora para trazer a comida errada e voce ainda sai sorrindo e agradecendo. O unico lugar onde encontrar cabelo na comida e algo perfeitamente natural.

Por primeira vez em muito tempo sinto que nao tenho que provar nada para ninguem. Nem para mim mesma. Estou aqui porque quero estar. Posso ir embora quando quiser e a viajem ja tera valido a pena. Me sinto feliz. Realizada. Viajando sozinha, mas nao so. Conhecendo gente. Conhecendo a mim mesma. Pelo menos um pouco mais.

E pouco a pouco vou entendendo, ainda que no plano mental, que cada pessoa que passa na nossa vida tem um papel a cumprir em relacao ao nosso karma. E nos provavelmente tambem teremos um papel a desempenhar na vida delas. Assim que os papeis sao cumpridos essas pessoas se vao, abrindo caminho para os que vem atras. Mas nos nos apegamos aos papeis. As pessoas que estao de passagem. Nos apegamos a uma imagem, a um "eu" que nao existe e estagnamos nosso proprio crescimento espiritual. Porque cada pessoa tem uma mensagem a entregar. Algumas podem levar anos para faze-lo, outras apenas algumas horas ou alguns dias. Mas nao queremos deixa-las ir, nao queremos seguir nosso caminho e nao deixamos que elas sigam os delas. Assim sao os apegos.

Nada que a India nao nos ensine.

India, incrivel India!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dificil acreditar que nao faz nem um mes que estou aqui. Tantas coisas, tanta gente passando pela minha viagem que um mes parece ser infinitamente pouco.

Por exemplo, em apenas 3 dias conswgui um lindo diploma. Agora sou diplomada em culinaria tibetana. Nao paro de comer! Ja sei fazer paes, sopas e momos (uma especie de pastel cozido ao vapor). E nao e um diploma qualquer nao, nada de folha sulfit, diploma quase de verdade!

Um pouco de aventuras... Estava eu la, linda e formosa no outro dia, tomando um maravilhoso banho quente no banheiro do meu quarto, olho pra cima e...a maior aranha que ja vi na minha vida (isso porque ja vi algumas) la, me encarando. Ahhh, minha primeira reacao foi sair correndo e gritando, de shampoo na cabeca, mas logo me dei conta que essa ideia, na India, nao seria naaaada bem recebida, assim que quase calmamente terminei meu banho, congelando a aranha marrom, peluda e de pernas compridas com meu olhar e sai para buscar alguem que pudesse tira-la de la. Passaram uns 10 minutos antes que eu conseguisse encontrar o recepcionista. Expliquei minha historia e la vai o cara, desaparece por uns 5 minutos em algum lugar e volta com um aromatizador. Nao, volto a explicar, tem uma aranha enoooooorme no meu banheiro! Ah, ele disse, spiderman! Nao, quase grito! So spider, sem man!!! Ah, finalmente eu, de cabelos pingando, consigo arrastar o cara pro meu banheiro. La vai ele, olha com cara de entendedor e diz, nao tem problema! Voce tire esta aranha dai agoraaaaa, quase grito de novo! Finalmente me vejo livre da aranha e ainda faco o cara dar uma checada em todo o resto pra ver se tem nenhuma outra. Isso porque e o terceiro dia que estou la e manhtenho sempre mantenho a porta do banheiro fechada. Isso quer dizer que ela sempre esteve la. Embora nao a tenha visto. Prefiro nem pensar onde.

Por outro lado chegou o Dalai Lama. Num lindo dia de sol, as ruas todas enfeitadas, um mar de gente amontoada para ve-lo. Bom, aqueles que chegaram primeiro talvez tenham podido, mas eu so pude ver a caravana, ja que ele estava sentado no menor carro.

E ontem comecaram os ensinamentos. Seguranca maxima. Nada de cameras, telefones, armas, nada. So ve-lo entrar, com um sorriso manso no rosto e emanando uma aura de bondade ja valeu a pena. Bom, pelo menos isso salvou o primeiro dia. Ate porque a traducao nao e simultanea e nao e das melhores. A transmissao e feita por radio e as vezes o sinal nao e muito bom. E o tradutor, as vezes le na mesma velocidade que o Dalai Lama, os textos sagrados, que aqui ja sao conhecidos e nao pra entender nem uma palavra.

Hoje, ja fui mais preparada. Papel e caneta na mao. Anotar ajuda a concentrar a mente, alem de ajudar a entender. Por outro lado ontem comprei um tappawere para servir de prato ja que la mesmo servem comida. Ontem, ao nao saber, sai com 3 amigas para almocar e a comida demorou tanto que quando conseguimos voltar ja tinha comecado. Apos muita luta consegui uma porcao de arroz e uma de sopa que me fizeram bastante feliz. E de novo ve-lo entrar e sair me encheu os olhos de lagrimas e me arrepiou o corpo inteiro.

A verdade e que muitas coisas nao consigo entender. Nem eu nem ninguem, imagino. Mas suponho tambem que muitas coisas entrarao por osmose. Nao e todo dia que podemos estar perto (nao no mesmo recinto) de um ser desses.

Hoje consegui tomar algo de notas. O tema foi a nao existencia do eu (selfness). O budismo e o pacificar a mente. A mente, segundo eles, pode ser pacificada atraves da meditacao sobre a nao existencia do eu. Quando a mente deixa de ser egoista (self-centered) passa a ser compassiva e nao gasta tanto tempo pensando em si mesma. Budismo e o cultivo da mente nao egoista.

Quando um pessoa deixa de pensar tanto em si mesma o "eu" deixa de existir e amente se acalma.

Quanto a generosidade, o budismo perga que devemos ser generosos sem apegos ao objeto dado, generosos simplesmente pelo ato de se-lo, sem pensar no que recebera em retorno. Generosidade + amor + compreensao levam a iluminacao.

Um objeto pode ser visto de duas formas: superficial, onde se ve a forma resplandecente e a analitica, onde o objeto nao existe de maneira independente. Esta 'e a "Ultimate Truth". O "eu" deixa de existir, nao pode ser encontrado, nem identificado. O que reconhecemos como "eu" e nada mais que uma forma fisica e uma personalidade criada em cada vida.

Ate mesmo os Bodhistwas devem ser vistos como nao-existentes ja que suas existencias nao ocorrem de forma independente. E impossivel ter compreensao do ser se nao se compreende a nao existencia do eu e da forma (phenomn). Por outro lado deve-se ter cuidado para nao se apegar a sensacao de inexistencia.

Para provar a existencia real de um objeto, este deveria passar por 3 analises.
-O objeto deve ser aceito por uma mente convencional
-O objeto nao deve ser rejeitado por uma mente que analisa o sentido convencional
-O objeto nao deve ser rejeitado por uma mente que analisa o "Ultimate Sense"

Nao e que nada existe, as coisas simplesmente existem por sugestao subjetiva. Ainda que uma mente esteja livre de arrogancia, se nao se tem conhecimento nao se chegara aos resultados devidos.

O corpo, por exemplo, so e reconhecido como corpo por todas suas diferentes partes. Ha uma co dependencia entre todas as partes e o corpo como um todo para que podamos reconhece-lo. Isso demonstra que o corpo nao e real, ja que sua existencia nao e independente.

Objeto+ sense of self = apego ou aversao. Para evitar os dois ultimos tem-se que minar tanto o sentido do eu quanto a visao que uma pessoa tem de um objeto. O entendimento da origem dependente (dependent origination) mina a ignorancia. Na existencia dependente nao ha forma real.

Para que a mente possa ser controlada deve-se ir alem do sofrimento. Ate que um ser passe por isso nao pode ser chamado Bodhisatwa. Meditar sobre a nao existencia (emptiness) ajuda a percorrer o caminho da iluminacao, ja que mina o sentido do "eu"

Bom, isso foi o que consegui anotar de todos os ensinamentos de hoje. Que todos facam proveito. Be Happy!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

De volta a terra. 10 dias de silencio. 10 dias sozinha com o maior inimigo do homem, sua propria mente. 10 intensos dias e 10 fantasticos dias.

O primeiro dia e dificil, controlar a mente, mas como tudo e novo, voce se esforca mais. No segundo dia a mente comeca a se dar conta do que voce esta fazendo e vem pra cima. No terceiro dia eu e perguntava o que tinha passado na minha mente pra fazer um vipassana de novo. E no quarto dia quando voce tem que ficar imovel, nossa, ai sim voce quer fugir. Mas pouco a pouco a mente comeca a acalmar. Pouco a pouco o silencio, ainda que nao completo vai chegando. A respiracao ficando cada vez mais imperceptivel. As dores vao passando e voce lembra porque esta ali.

Sonhei. Sonhei muito. Muitas aguas passadas foram reviradas durante os sonhos. Isso porque estou acostumada a sonhar. Quem me conhece sabe. Nao faltam historias nos meus sonhos. Mas durante o Vipassana duplicaram em quantidade e intensidade. Simplesmente incrivel. Limpeza total de corpo e alma.

Acordei duas noites seguidas com um subito clarao no meu rosto. Olhei assustada e vi pela janela do teto uma incrivel lua cheia iluminando meus sonhos. Nao e todo dia que podemos ver a lua cheia desde a cama. Abri os olhos, sonolenta, vi a lua, apreciei por uns segundos, vierei de lado e pensei, volte a dormir que voce tem que acordar as 04:00!

Me sinto caminhando em ondas. Literalmente. Ligeiramente enjoada, como estar em alto mar. Voltar a vida real foi dificil. Ainda mais porque como o Dalai Lama esta vindo os hoteis estao todos cheios. E os precos dobraram. Um novo teste de equanimidade pos Vipassana.

Ah, mas o Vipassana tem muitas vantagens alem da meditacao. Por exemplo, fortalece as pernas. Isso de ficar fazendo as necessidades agachada, ufa, cansa. Dai descobri uma utilidade para a sempre presente torneirinha que os indianos usam para lavar as maos. E nao, nao e lavar as minhas maos, ja que os banheiros tem pia para isso. Nao, para dar apoio. Assim voce agacha, mas tem onde se segurar.

Alem disso o Vipassana, para quem ja fez pelo menos um curso anterior emagrece. Sim, porque tomamos cafe da manha (as 06:30 da manha) e almocamos (as 11:00) e nada mais. Bom, mentira, as 17:00 podemos tomar cha de limao. A verdade e que nao fiquei com fome. Meditar nao gasta muitas calorias. E no decimo dia sim podemos comer a noite. E foi o que fiz. Comi. E passei a pior noite de todas. Nao conseguia dormir. E quando finalmente conseguir, passei a noite tendo pesadelos. A comida pesa e nao nos damos conta.

Parece que realmente nao tenho muita sorte com os chuveiros nos vipassanas. Quem leu a entrada do primeiro Vipassana que fiz, sabe. So no ultimo banho consegui agua quente. Pois dessa vez fiquei toda feliz porque ganhei um quarto com banheiro. Chuveiro, pia e privada na chao. Mais feliz ainda quando consegui meu primero banho quente no primeiro dia. Entao, no segundo dia la fui eu toda contente tomar banho e pronto, agua gelada. Bom, muita coragem nessa hora. Terceiro dia, la vou eu de novo. E agua gelada! Cabelo pra frente e banho em duas partes. Cabelo e corpo, separadamente. Durante o almoco escrevi uma pequena nota para a manager explicando que nao tinha agua quente. Durante a noite me comentou que estava consertado. No dia seguinte la vou eu e entro em extase ao conseguir agua quente. Dia seguinte... Agua gelada de novo. Bom, decido, para nao desperdicar mais palavras, tomarei banho nos chuveiros compartilhados do lado de fora. NO luck. Agua fria. O problema e comigo mesmo porque depois, conversando com as outras mulheres descobri que todas sempre conseguiam agua quente...

No sexto dia choveu desesperadamente. Pedrinhas de gelo. Pude ve-las caindo desde a janela do banheiro. Nao chegou a ficar tudo branco como no Matutu, mas foi suficiente. A noite mais fria de todas. No dia seguinte, as 04:30 da manha, descobri ser impossivel meditar. Mesmo com meu cobertorzinho tibetano, tiritava. Mas ao amanhecer, olhei para o horizonte e vi a primeira montanha nevada. Valeu a pena todo o frio.


Vivemos num mundo de sensacoes. Sensacoes que tentam nos distrair do nosso verdadeiro eu. O homem em geral se sente vazio e tenta encontrar a felicidade em coisas materiais. Hoje quer um telefone, amanha um ipod, depois uma moto, carro, casa tv, tv maior, computador. Um querer sem fim. Um querer que nao preenche. O homem se preenche a si mesmo. Ou pelo menos deveria. O homem deveria saber fechar os olhos para tantas sensacoes superficiais e conhecer aquilo que verdadeiramente sente. Dentro. E entao se sentiria completo. E seria feliz. Em todos os momentos. Nao somente naqueles onde tudo sai conforme o esperado. Nao. Em cada momento, em cada minuto, segundo, porque viveria no agora.

No decimo dia podemos voltar a falar. Se diz que e para a volta ao mundo nao ser tao impactante. E e um momento lindo. Todos querem compartilhar felicidade. Querem saber como estao aquelas pessoas com quem conviveram por 10 dias, que ouviram chorar, mas nem olhar puderam. E ali, no decimo dia, existe tal felicidade no ar, os rostos brilhantes e sorridentes. Cada um sabendo que enfrentou seu pior inimigo por 10 dias e saiu ileso. Um momento magico.

Pois foi durante esse momento magico que conheci uma menina suica. Mais uma daquelas que voce olha e pensa ja conhecer de algum outro lugar. Bom, provavelmente uniremos as mochilas. Planejo ficar em Dharamshala por mais uma semana mais ou menos para escutar os ensinamentos do Dalai Lama. Depois vamos juntas para Risshkesh e de la para o Nepal! E se possivel, do Nepal, fazer um tour para o Tibet.

Viajar e assim. Conhecer gente, compartilhar momentos, caminhos se juntam e se separam incessantemente. Portas se abrem no mundo inteiro. Nao existe solidao. Nao existe tristeza. Existe sim sempre a duvida do amanha.