domingo, 8 de novembro de 2009

Domingo de sol, domingo de descanso. Em vez de ir ao festival e me encher de aulas de milhares de coisas fui com a Pao a uma prainha longinqua e tranquila a beira do Ganges. Ali passamos a manha. Senti por primeira vez que realmente estava aproveitando o estar em Rishikesh, o estar perto de um rio tao sagrado e aproveitar a energia dele para meditar.

Ali, em meio a natureza, ouvindo o borburinho sagrado do Ganges, sentindo a areia branca sob os pes, me senti em conexao com a Unidade. E foi facil meditar. Porque a maior expressao de Deus e a propria natureza. E me dei conta que sempre tive dificuldade de meditar entre 4 paredes, mas ali parecia ser algo natural. Tambem sempre tive dificuldade de identificar Deus em uma imagem. Ou orar olhando alguma imagem. Porque Deus para mim e a consciencia de cada momento, e a essencia de cada um e a uniao de todas as essencias. Deus e a Unidade, e amor. Nao posso colocar uma forma no amor. Nao consigo dar uma forma a Unidade. Mas entendo que para muitos seja mais facil rezar espelhando Deus, ou uma concepcao de Deus em alguma imagem. Cada um tem seu metodo de conectar-se com o divino e todos sao validos.

Sentei na arei branca, a beira do rio e meditei. Pensei nas semelhancas entre o percurso do Ganges ou de qualquer outro rio com a nossa vida. O percurso com turbulencias ou nao, mas sempre chegando de um jeito ou de outro, no mesmo destino. Tambem passamos por turbulencias, sofrimentos impostos pela vida. Sofrimentos e dores que baqueiam nossa personalidade, nossos egos. Mas o destino final, tambem e sempre o mesmo, a reuniao com a Unidade.

Se paramos para pensar que a cada vida (para aqueles que acreditam em reencarnacao) temos uma personalidade diferente, somos uma pessoa diferente, entendemos o quao ilusoria e a ideia que temos de nos mesmos. Porque a personalidade, os egos, nao sao mais que uma ilusao, nossa verdadeira essencia e a unica realidade. E se a personalidade e ilusao, porque sofrer? Os sofrimentos e preocupacoes que a vida nos apresenta somente doem no ego. A essencia continua intacta.

Vai vida, vem vida, passamos pelas mesmas provacoes, vivemos em Maia ate que entendemos que nao existimos, nao a concepcao que temos de nos. Os sofrimentos sao uma ajuda no nosso caminho a Unidade, eles sao os que eliminam, pouco a pouco os egos. Tentam mostrar-nos que o ego nao existe, e sendo assim o proprio sofrimento nao existe. Por que sofrer por algo irreal?

Falar de Maia me leva a uma outra filosofia. Maia e considerada a ilusao. E ao mesmo tempo e tambem a Mae Divina, a Energia Criadora. Parece ser uma contradicao. Pois hoje, meditando, olhando as aguas verdes do Ganges, cheguei a conclusao que nao e. Maia e a expressao do amor divino. E a forma que temos de ve-lo em nossa cegueira a realidade. Maia e a ilusao criadora, e mais uma taboa na ponte que nos leva de volta a nossa origem, a Unidade, e o caminho para chegar a Deus. A criacao nao existe sem Deus, mas me pergunto se Deus existiria sem a criacao. Como poderia existir um Deus inexpresso? Maia faz parte de Deus e Deus faz parte de Maia, sao complementarios e sao um so.

P.S.:Peco desculpas aos possiveis leitores pelos erros de acentuacao e portugues que possam haver. Quanto a acentuacao, nao sei onde estao as teclas nesses teclados da India. Quanto aos de portugues, muito tempo longe da patria nos leva a isso.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ah, Rishikesh... Ontem alugamos motos e fomos dar umas voltas. Eu, claro, atras, porque dirigir moto, ainda mais na India, ainda mais pela esquerda, ah, impossivel! Assim, sem querer fomos parar num longinquo templo de Shiva. Eramos as unicas tres estrangeiras do local. Um templo de peregrinacao totalmente hindu. Um espetaculo de cultura. O lugar em si nem e tao lindo, mas o caminho para chegar la, esse sim imperdivel. Parece ser que o templo foi edificado no lugar onde Shiva teria sido picado por uma serpente, o que originou sua cor azul.

Na volta paramos em uma prainha a beira do Ganges, tempo suficiente para dar um mergulho nas aguas verdes (bom, eu nao entrei, ainda um pouco gripada) e ver um lindissimo por do sol. E realmente muito interessante ver esse rio tao limpo e pensar no quanto muda daqui a Varanasi. Por os pes nessa mesma agua, em Varanasi, seria algo totalmente impensado para mim, apesar que conheco algumas pessoas que chegaram a beber da agua de la e nao aconteceu nada.

Hoje acordamos super cedo para tentarmos nos inscrever num curso de Yoga de 1 semana com um super professora suica. Bom, mesmo tendo chegado cedo, o curso ja estava completo. O que foi uma sorte! Pois na volta descobrimos que hoje mesmo comeca um festival de musica e yoga. Totalmente gratuito. Programacao por 2 semanas, todo o dia. Aulas de yoga, teoria da ayurveda, meditacao, 5 pilares da Sadhana, enfim, um senfim de coisas interessantes. Algo que em qualquer lugar no ocidente seria uma fortuuuuuna. Algo somente possivel na India mesmo. E ainda pela noite, para fechar, musica ao vivo!

Em Rishikesh qualquer um se sente artista de cinema. La esta voce caminhando tranquilamente e de repente voce se ve rodeado, 10, 20, 30 pessoas. Todas tirando foto de voce, com voce, querendo te tocar. No comeco eu nao tirava nao, agora so rio, eu tambem gosto de tirar fotos deles. Uma mao lava a outra.

Enfim, me espera uma semana de praticas e aulas, quem sabe nao serei uma yogui quando saia de Rishikesh?!