La vamos nos de novo. Nem ideia de por onde comecar. Da ultima vez que escrevi ainda estava nas brancas areias de Gokarna. Depois de duas semanas de sol e mar peguei um tardio trem a Cochin. Tardio porque foram 5 horas de atraso, ate que pouco para a India. E apesar do atraso chegamos nao muito mais tarde do que o esperado. O bom da espera e que a gente aproveita para conhecer gente.
De Cochin, com uma nova companheira de viagem, parti para o ashram da Amma. Chegamos sob intensa e bem vinda chuva. Ja do outro lado da ponte se podem ver os altos predios rosa, parecendo totalmente fora do lugar em meio as palmas, coqueiros e casas de pescador. E ao entrar, toda aquela multidao. Quase uma cidade. Aqueles que se deixam levar pela primeira impressao vao embora ja no dia seguinte sem conseguir sentir o espirito do ashram. Mas e so dar uma oportunidade, alguns dias e tudo comeca a ter mais sentido.
O primeiro abraco, para quem nunca teve um antes, tambem e estranho. Um fila interminavel, maos que te empurram na posicao correta por apenas uns segundos, te puxam quando os segundos ja terminaram e te empurram de novo para longe da fila. Voce so fica com o cheiro a rosas e a pequena bala dada pelas maos da Amma. E se pergunta qual e o sentido de tudo aquilo.
Dai voce comeca a fazer seva, comecei levando de um lado para o outro os pedidos da cafeteria. Karma de garconete. Depois troquei e fui lavar louca. Da maneira de ashram. Varias bacias e varias pessoas. Os pratos vao passando da bacia mais engordurada ate a limpa e cada um faz sua parte. Fora a meditacao na praia. Somos encorajados a faze-la duas vezes por dia, das 06:30 as 07:30 e das 17:30 as 18:30. Um paz incrivel, todos se reunindo num mesmo lugar com o mesmo proposito, todos em silencio, observando a si mesmos.
Ainda dei a sorte que a Amma estava no ashram pelo qual alem das meditacoes e sevas, tinha os abracos, os ensinamentos e o bhajans, musicas devocionais. E a presenca dela, claro, isso ja e suficiente. Cada abraco, embora dure os mesmos milesimos de segundo, parecem mais amorosos e mais longos.
Enfim, depois de uns 10 dias de vida de ashram resolvi mudar meus planos, que eram de seguir para Tirunvamalai e descer com uns amigos ate o extremo sul da India, Kanyakumari, o lugar onde se pode ver o sol nascer e se por no mar. Mais um lugar de peregrinacao, mas nesse caso indiana mesmo, nada turistico. Uma cidade feia e suja, num lugar espetacular e mal aproveitado. Mas valeu a pena, o sol veio e se foi e pudemos ver cada centimetro de cada momento.
De Kanyakumari fomos a Rameswaram, a quarta maior cidade de peregrinacao hindu,o ponto mais perto do Sri Lanka. O lugar onde Hanuman ergueu a "ponte" unindo a India ao Sri Lanka para salvar Sita das maos de Ravana. Historias do hinduismo. E teriamos ja ido ao Sri Lanka se as fronteiras maritimas nao estivessem fechadas. Mas estavam, agora, depois de todos os conflitos de la, so de aviao mesmo. Estivemos a 30km e nao pudemos ver. Coisas da India. Mas tambem valeu a pena, outra cidade feia de peregrinacao hindu, mas num mar azul cristalino, o primeiro tao transparente que vejo na India, que geralmente tem o mar escuro.
Subiremos mais, ate Chennai e de la pegaremos o aviao ao Sri Lanka. Se os planos nao mudam, claro, porque ja sabem, na India, Sapkuti Milega, Tudo e Possivel!