terça-feira, 13 de novembro de 2012

Compaixão


Ser gente não é coisa fácil. Pelo contrário, acho que esse é o grande desafio dessa divina comédia que representamos. Alguns, porém conseguem exercer seus papéis com tal destreza que são fonte de inspiração para o resto de nós, mortais. Alguns diriam que o ser humano é o único com a capacidade de mudar suas próprias atitudes. Às vezes me pergunto se realmente somos ou se simplesmente precisamos que a própria vida nos mude. Digo com base na minha própria experiência - embora tenha algumas outras pessoas passando pela minha cabeça nesse momento. Sou daquelas que está sempre em chispas, pareço sempre ter fogo saindo, só falta a fumacinha em cima da minha cabeça. Sempre disposta a atacar e a franzir o cenho. Sempre disposta também a pedir desculpas, porém. Mas de que adianta sentir remorso a cada dois por três? Foi buscando um pouco de inspiração que fui atrás das palavras do Dalai Lama, esse ser que me sempre me faz sorrir. Existe alguém mais fofo? Procurei alguns vídeos, mas nessa minha internet pareço estar vendo novela, exceto que nas pausas não sou obrigada a ver nenhum comercial, mas tem a semelhança que normalmente não consigo chegar no final. Enfim, escolhi dois e me armei de paciência e de outras coisas para fazer. Ver em lapsos temporais tem a sua vantagem, te dá tempo para pensar naquilo que foi dito, tempo para absorver. Devo dizer que acredito que todo temos a sabedoria dentro de nós mesmos, porém que poucas vezes conseguimos acessá-la. E muitas vezes sentimos que já sabemos tudo aquilo, que apenas havíamos esquecido. Podemos fugir de qualquer coisa nessa vida, exceto de nós mesmos. E qual inimigo é pior do que aquele de quem jamais conseguimos escapar? Não basta ter amor e carinho - que é o que geralmente sentimos por amigos e familiares - é necessário ter compaixão. Compaixão que nos faça lembrar que o outro também tem seus problemas e dificuldades, que o outro tampouco consegue escapar de si mesmo, que estamos todos atrás de um mesmo objetivo porém que cada um tem seu próprio caminho. E que embora esses caminhos pareçam divergir completamente e inclusive gerar inumeráveis conflitos, jamais esquecer que o destino é sempre o mesmo.

sábado, 4 de agosto de 2012

Sobre as Olimpíadas

Olha, vou falar uma coisa, adoro Olimpíadas, gosto muito de torcer gritando, ainda que a televisão não consiga me ouvir. Sofro quando os atletas brasileiros caem, erram, desanimam, meu coração acelera, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância. Mas essas Olimpíadas estão sendo decepcionantes, não tem outra palavra para descrever. Acho que nem lembramos mais o que é ganhar medalhas, o sabor delas. Por outro lado, sempre que ganhamos me sinto mal por aqueles que perderam. Não existe justiça nesse mundo, todos treinam com o mesmo afinco, mas nem todos tem patrocínio ou excelentes treinadores. E nem todos tem um país que investe em esporte já na escola - o Brasil se encaixando nesse perfil, claro. Claro que pensei logo em uma teoria da conspiração. A Globo comprando os resultados negativos das Olimpíadas do Brasil para tentar diminuir a audiência da Record e talvez assim ter menos competição na hora de comprar os direitos de transmissão das Olimpíadas de 2016... De qualquer maneira, olhando de um ponto de vista mais realista, é bom que as medalhas sejam escassas. Quem sabe assim a gente pare de nos contentar com ver os esportes e fingir que nosso país é uma maravilha e comece a dar mais atenção ao que realmente importa, quem sabe assim a gente consiga fazer que diminua a corrupção e que invistam em educação. E então, via saber, de repente as medalhas se proliferem nas Olimpíadas seguintes.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Sobre a vida no campo

Quando falo que moro fora da cidade, no meio do mato, longe do trânsito e caos diário, a maioria das pessoas fala que sou sortuda, que sonham em fazer o mesmo. A gente fala em campo e aparece na nossa cabeça a imagem de uma linda casa, perfeitamente decorada no estilo rústico, cercada de uma grama perfeita e um jardim bem cuidado. Uma linda horta, toda cheia de lindos tomates e alfaces e você naquela roupa linda que viu naquela revista, com aquele chapéu de palha perfeito para te proteger do sol e da poeira. E por mais que você segure um cesto cheio de verduras fresquinhas e orgânicas, seus dedos e unhas estão impecavelmente limpos. Bucólico, não? Cena de filme. Mas prepare-se, aqui vai a realidade...isso é somente propaganda de revista. A roupinha arrumadinha e limpa que você imaginou fica esquecida no fundo do armário sob pena de virar pano de chão já no primeiro uso. As unhas, melhor desistir de tê-las grandes ou pintadas, isso não é para quem trabalha com a terra. Os dedos vão sujar, e as unhas só vão voltar a ficar limpinhas depois de uma boa esfregada. Sabe aquela bota de couro que você imaginou que seria perfeita para essa ocasião? Esquece, vai estragar, você precisa mesmo é daquelas botas feias de borracha, assim não corre risco de ser picada por nenhuma cobra. E nada de achar que vai poder usar aquele vestidinho florido, suas pernas vão ficar arranhadas e ainda tem o risco de passar em uma moita cheia de micuins. E aquela grama tão verdinha? Esquece, seu tempo vai ser mais útil tirando as pragas que invadem a sua horta que fazendo o capim ficar baixinho. As flores sim, essas é fácil de conseguir, pelo menos isso. O chapéu de palha, melhor deixar do lado de fora também, vai te atrapalhar na hora de se agachar na terra e remexer nos canteiros, e se tiver vento você vai acabar precisando segurá-lo com a sua mão imunda de terra e de esterco. E o cabelo, nada daquela trança maravilhosa que você viu naquela novela, vai ficar bagunçado e suado. Casa de campo não é nada parecido com a imagem que compramos dos filmes, - a não ser, é claro, que você tenha dinheiro suficiente para pagar alguém para cuidar diariamente da sua horta e do seu jardim - tem que por a mão na lama, pegar na enxada e ainda rezar para não ficar com a mão tão calejada que seu carinho vai parecer mais é exfoliação. Mas não desista desse sonho, se você se esforçar bastante, vai se sentir extremamente bem recompensada no final do ano quando conseguir encher seu cestinho com meia dúzia de alfaces, uns dez tomates, duas mini berinjelas, - produto orgânico é assim mesmo - alguns alho porós, beterrabas e couves e se der ainda mais sorte, não vai ter nenhuma paca comendo seus inhames e mandiocas.

sábado, 14 de julho de 2012

Luz

Uma pessoa com mil nomes, mil faces, mil pessoas dentro de mim. Porque eu não sou nada mas tenho tudo no meu interior, um pouco de cada coisa, de todo mundo. Posso ser Maria, Cristina, José, posso ser um pedra ou a água, está tudo lá, então como posso ser apenas uma pessoa? Sou luz, mil, um bilhão, infinitas partículas de luz existem no meu corpo. E ao meu redor. E em todo mundo,em todos os lugares. Sempre as mesmas partículas. Todas partes do mesmo Um. Sou maior que esse corpo que me delimita. Sou maior que essa Terra que habito. E não sou nada. E por isso sou livre.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sexta-feira 13

Ok, vamos falar de sextas- feira 13...Para quem nasceu em um dia 13, como eu, essa crença de que sexta-feira 13 dá azar para de ter sentido, até porque é impossível escapar da fatalidade que seu aniversário vai, de quando em quando, cair nessa data..Por outro lado, saber que em outros países, o tal dia não é na sexta senão na terça, faz a gente perceber que o 13 é o fator comum e, ainda por cima, nos dá a incrível possibilidade de ter aniversários azarados ainda mais vezes. Certo, como eu dizia, quem nasce em um 13, deixa de acreditar nessas coisas - ou não? Vamos dizer que já tive aniversários bastante azarados, embora não lembre com exatidão o dia da semana em que caíram - mas pensando que tenho dois dias da semana para ter azar num dia 13, vamos dizer que a probabilidade de ter sido em um desses aumenta, né? Mas por que estou falando disso quando na verdade queria era colocar aqui um receita deliciosa que pensei em fazer para o almoço dos meus trinta anos, hoje? Porque tinha já feito tudinho na minha cabeça, uma linda abóbora recheada de truta defumada ao creme branco e queijo. Já até tinha feito o molho, tudo lindo. Minha irmã comprou a abóbora, orgânica, tirada da horta de algum vizinho, e eu a pus dentro da panela para ferver um pouco. Até aí, perfeito,né? TIrei a abóbora da água e fui, com a ajuda de Mamis, mais experiente nessa receita, cortar a tampinha para colocar o recheio e levar ao forno. Para minha grande surpresa, a abóbora tão redondinha e linda tinha um enorme furo embaixo e ainda por cima estava bichada e com partes podres. Pronto, quem é que merece, no dia do próprio aniversário, além de ter que limpar a própria casa e cozinhar o próprio almoço, ter que fazer macarrão? Por outro lado, a culpa deve ser inteiramente minha, que tive a infeliz ideia de fazer ABÓBORA (como não percebi isso antes?) em plena sexta-feira 13. Parabéns para mim!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A volta à Essência

Falando de simplicidade me vem a mente a Etiópia. Eu e uma amiga fomos em um mosteiro fora do roteiro turístico - e a Etiópia não é um lugar muito turístico, então só imagina onde fomos parar... Foram 4 horas de caminhada, o guia saltitando à nossa frente, tão ágil como uma cabra, e cada uma de nós com 15 quilos nas costas, descendo montanhas e mais montanhas, em trilhas secas e escorregadias, em beiras de penhascos - e não ajuda o fato de estar usando um nike com a sola mais lisa que picolé de frutas. A paisagem, claro, fantástica, mas a preocupação de fazer um voo fatal me tirava do sério. Enfim, quando o mal humor já era parte de mim há mais tempo do que gostaria de confessar, chegamos a um pequeno vale, com algumas cabanas feitas de madeira e pau a pique. Olha, não sei se as varas verdes tremem, pois nunca vi nenhuma, mas considero que naquele dia entendi a expressão porque as pernas tremiam tanto que era difícil ficar em pé. Um padre veio nos receber, boquiaberto, éramos as primeiras mulheres brancas a chegarem ali. Explicamos, através do guia, obviamente, que queríamos ficar ali e nos foi dado o estábulo, o único lugar que sobrava ali. Dormíamos olhando as estrelas através das paredes de galhos. O único porém foram as pulgas, essas me assaltaram pelo resto da viagem, sem trégua, mas prefiro romantizar e não lembrar delas. Do outro lado do riacho moravam as mulheres, e no dia que fomos visita-las, nos sentaram em um quarto cheio de teares, e nos encheram de comida - deviam achar que não nos alimentávamos bem porque certamente não era normal que duas pessoas jovens como nós tivessem tanta dor nas pernas só por causa de uma caminhada. Nossa única comunicação eram mímicas e risadas. Os pés calçados em chinelos gastos, o corpo em roupas remendadas. As casinhas, ou melhor, quartinhos onde moravam, de pau a pique a chão de terra batido. A cama, apenas um cobertor sobre o chão e um mosquiteiro para proteger. Algumas panelas, um ratinho correndo daqui para lá, e só. Mas tinham tudo o que precisavam , vaquinhas para tirar leite e fazer ricota, banana, milho e o grão que faz a farinha fermentada deles - tefl, ou algo do gênero. De que mais precisavam? Quando íamos embora uma das monjas nos fez massagem nas pernas ainda doloridas. O fez com o mesmo amor que recebeu lambidas carinhosas de uma vaca. Dei meu xale para agradecer, dei meu chinelo, teria dado tudo, mas ela não queria nada, foi difícil fazê-la aceitar qualquer coisa. Foi ali que entendi o que era viver uma vida sem precisar de muito, porém sem tantas preocupações e desejos. Foi ali que vi a simplicidade, não só da vida, também da alma. Ali foi onde compreendi a verdadeira felicidade.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O que você quer ser quando crescer?

Quando era pequena me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. E eu respondia: veterinária! Minha irmã dizia que seria bailarina, um amigo, bombeiro. Quem não sonhou em ser fotógrafo, piloto de avião, modelo, sei lá? Porém o que ninguém parecia se dar conta era que nossa resposta era o que queríamos FAZER. Ninguém É engenheiro, as pessoas fazem engenharia; é uma profissão e não definição de caráter. Somente descobri a diferença entre um e outro depois de adulta e nessa época meu fazer era viajar e aprender com a vida. Depois de perceber que o que sonhava ser desde criança não me faria feliz, me perdi. Como se pode fazer uma escolha quando as possibilidades são infinitas? Foi então que descobri o que eu queria SER e o entendimento do que fazer veio junto, automático, perfeitamente claro. Tendemos a definir nossa personalidade a partir de nossa profissão. Fazemos aquilo que esperam de nós ou o que nos dará uma boa imagem, ou algo que nos faça sentir parte da sociedade. E esquecemos que antes deveríamos ter escolhido como queremos ser. No meu caso para me sentir feliz (e realizar o que quero ser), devia simplificar minha vida. Ao precisar de menos coisas, precisaria também passar menos horas trabalhando para consegui-las. E o tempo restante poderia dedicar ao ser. Não seria muito mais interessante se apresentar dizendo: Oi, sou fulaninha de tal, sou compreensiva, em vez de dizer Oi, sou fulaninha de tal, sou médica? Portanto, para aqueles que se sentem perdidos, aqui vai meu conselho, vindo de quem já passou pelo mesmo... Sejam, acima de tudo, felizes e descubram o necessitam para se-lo. O resto é consequência.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Cientista da alma

Ela era algo meio assim, etéreo, difícil de definir. Podia parecer com qualquer pessoa, e também era totalmente única. Tinha dias que era difícil reconhecê-la, apesar do físico ser sempre igual, era algo relacionado a atitude. Ninguém a entendia muito, porém ela pouco se importava. Dizia que era uma pesquisadora, embora nunca tivesse entrado em um laboratório e injetado substâncias estranhas em ratos. Andar com ela era como andar com alguém que sofre de amnésia. Mas não é que ela esquecia das coisas, pelo contrário, tinha uma memória excelente. Parecia esquecer sua reação à fatos vividos, ou do que gostava e do que não. Tudo começou numa manhã em que acordou de mal-humor, daqueles pesados, feios, com espinhos nas bordas, arranhando a quem se aproxima. Passou uma semana inteira assim, nem nenhuma razão. Estava tão chata que ela mesma não se suportava e decidiu se trancar no quarto até aquilo passar. E demorou. Mas ela achou uma solução. Tudo porque sonhou com um varal, cheio de roupas, velhas, novas, cinzentas, coloridas, roupas que balançavam no vento, e alguém colhia as roupas, escolhendo umas aqui, outras ali, deixando algumas para trás. Quando acordou do sonho, arregalou os olhos e riu. Decidiu, então criar seu próprio varal, só que em vez de pendurar roupas, colocaria atitudes, sentimentos, virtudes. Resolveu não só escolher a roupa que vestiria a cada dia, mas também sua personalidade. E tinha infinitas possibilidades a testar até chegar naquela que a agradasse totalmente. Era então, a cada dia uma nova pessoa que saía do quarto. Se renovava, se recriava depois de cada noite. Tentou a vaidade, pôs suas melhores roupas, pintou as unhas, escovou o cabelo, maquiou o rosto, e logo descobriu que a vaidade associada a uma atitude confiante era uma arma poderosa, capaz de virar cabeças e dobrar ideias. Tentou o orgulho e o preconceito e foi difícil conviver com ela nesse dia, impossível tentar mostrar que estava errada. Para compensar, o dia seguinte foi dedicado à humildade e à doçura e parecia tão frágil que a vontade era de ficar a seu lado durante todo o dia só para protegê-la. Pouco a pouco ela ia chegando às misturas apropriadas, em doses exatas, apesar de que sempre aparecia algo novo para testar. E vivia sorrindo pois chegara a conclusão que a felicidade era uma das poucas que podia ser usada em grandes doses sem contra indicações. Dizia que como era feita de água e que a água era algo fluido e mutável, assim também era ela. Uma pesquisadora da vida. Cientista da alma.

domingo, 1 de julho de 2012

Com 2012 voando, o tão proclamado apocalipse se aproximando, - tempestades solares cada vez mais fortes, terremotos, tsunamis, sequias, a natureza parecendo estar em meio a um curto circuito - fiz um acordo com Deus. Que fique claro que aquela visão de Deus como um senhor de barbas brancas e feições bondosas sentado em seu trono de nuvens macias não me convence em nada. Não consigo acreditar que um ser que criou um universo lindo e complexo como esse estaria calmamente observando lá de cima todo esse caos aqui embaixo, seu experimento científico, e ainda não ter percebido que isso aqui não funcionou, que ou põe a mão na massa para nos ajudar ou é melhor começar tudo de novo. Portanto creio mais da visão de um Deus não como um Ser, senão como uma presença inerente em cada átomo do Universo. A mesma Presença que resolveu deixar de ser somente energia e vibrar o suficiente para criar a matéria. Num dia de estresse onde olhei ao meu redor e tudo o que vi foi maldade e destruição, resolvi que tinha cansado de ser parte dessa brincadeira. Se Deus ainda não percebeu que essa experiência de Ser Humano saiu pelas culatras, eu já. E sendo que a Presença é inerente em cada um dos meus átomos, ainda que eu esteja totalmente inconsciente dela, decidi que isso tinha que mudar. Pois fiz um acordo. Com Deus, com a Presença, comigo mesma, tanto faz, dá na mesma. Dei um basta, já tive o suficiente, cansei de chorar, de sofrer por coisas passageiras para logo depois me alegrar como se nada tivesse acontecido, cansei de viver e reviver experiências parecidas e ver os outros ao meu redor passando pelas mesmas coisas. Então, disse eu, ou Deus me ajuda a me iluminar, me auto realizar, nessa vida, ou teremos problemas, se for necessário crio uma revolução lá no Paraíso Celeste, mas desse jeito não volto mais. Ou é agora ou é agora, não tem mais volta, porque só tenho uma certeza, se faço escarcéu lá no meio dos anjos sem ter me tornado um deles, quando voltar a dar conta de mim mesma, estarei é em meio ao fogo eterno.