quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Irmã

Admiro essas pessoas que depois de viverem circunstâncias difíceis têm a força não só de seguir adiante, mas de se sacudir e seguir na batalha.

Minha irmã é uma dessas. Faz algum tempo se mudou 7 vezes em um mesmo ano, de casa em casa, procurando um lugar seguro para ficar. Um lugar para chamar de lar. Ainda não encontrou...

Eu tenho sorte pois o lugar em que sempre quis viver sempre esteve aberto para mim, já ela tem que lutar pela vida até encontrar o seu. Eu quero correr pra concha e me esconder, ela tem a coragem de enfrentar. Eu quero voltar pro casulo, ela abre as asas e voa.

Minha irmã sempre foi minha companheira, nos altos e baixos, irmã na vida, irmã na alma, dividimos muitos (demasiados) dos mesmos karmas. Era ela que vinha colocar panos quentes para que eu não saísse com olho roxo, era ela que vinha apaziguando para eu poder ir em uma viagem, era ela que não me deixava provocar ainda mais uma ira sempre a espreita que só esperava um pequeno movimento para justificar sua presença. Ela fazia isso por mim, eu fazia o mesmo por ela.

Mas ela veio antes, desceu primeiro lá do céu, escorregando entre as nuvens e veio abrir caminhos, mostrando por onde eu poderia passar com segurança. Ser irmã mais velha tem seus pesos e tudo que eu aguentei, ela aguentou mais. Houve uma época em que brigávamos entre nós, talvez sem saber como escoar nossas frustrações. Foi ela que um dia disse que éramos mais fortes juntas.

Minha irmã nunca me deixou, nunca tive dúvidas de que estava comigo e sempre me defendeu e tomou o meu lado nas disputas. Minha irmã, assim como eu, teve que aprender a baixar a cabeça e esperar a tempestade passar, a engolir as palavras, a emudecer os pensamentos, a camuflar a personalidade.

Tem horas que quero gritar, chorar e socar tudo à minha volta porque parece não ter justiça no mundo. Queria ser rica, milionária, para poder dar pra ela a casa dos sonhos, o carro dos sonhos, tudo o que ela quisesse para que não precisasse estar sempre na insegurança. Queria poder dar tudo e um pouco mais. E aí me vem ela à cabeça, com sua voz suave, ela que fala tão baixo que tem que reclamar que ninguém nunca escuta, me dizendo que se nega a ser vítima, que nenhuma de nós é, pelo contrário, somos Mulheres, e muito mais Mulheres porque sabemos seguir adiante, tentando não guardar rancor, invocando a compaixão.

Minha irmã é mais forte do eu jamais poderia sonhar ser, ela é a prova que suavidade não é e nunca será antônimo de força. Ela é água e eu somente pedra dura....

Te amo sis

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sobre o medo e a coragem

Estamos acostumados a esconder as partes difíceis da vida, a fingir que tudo é sempre perfeito, a colocar embaixo do tapete os tabus, bem discretos para ninguém perceber; assuntos proibidos, sussurrados, engolidos, ou melhor, tragados. No rosto apenas um sorriso para ninguém perceber que lá dentro virou tudo geléia.

Digo porque vivi isso a cada dia por muitos anos. E até hoje sofro com isso.

O medo é algo estranho, provoca reações diferentes em cada pessoa. E algumas acham que conseguem se impor ao gerar medo nos outros, como se assim pudessem controlar um pouco do mundo ao redor, as atitudes e formas de ser, como se não soubessem lidar com formas diferentes da sua própria. E o medo é capaz de fazer você se encolher, capaz de fazer você querer ficar invisível, desaparecer, ser tão pequeno a ponto de se tornar imperceptível, transparente. Algumas pessoas se alimentam disso.

Elas vem para cima, crescem o corpo, sobem a voz, grudam o nariz no seu e te ameaçam com um olho roxo. Ou mais de um. Ninguém gosta de se sentir ameaçado, ninguém gosta de sentir o corpo ameaçado. E posso dizer por experiência própria que o coração bate mais rápido e as pernas tremem, a vontade é de correr para longe, se esconder embaixo da cama.

Mas faz um tempo decidi que meu espírito é bem mais forte que meu corpo, podem me ameaçar, não me importo com um olho roxo, mas nunca mais vou me encolher tanto a ponto de não saber quem ou o que sou só para que uma pessoa mal resolvida possa viver mais em paz. Faz tempo decidi que o medo não ia me vencer.

Faz tempo comecei a peitar e desafiar porque descobri que o medo do outro é maior que o meu. Descobri que eu, pequena do jeito que sou, de alguma forma e por motivos não compreensíveis represento uma ameaça para outras pessoas, simplesmente por não ser da maneira que elas querem. Seria mais fácil se fossem pessoas desconhecidas, não importaria nada né, mas daí isso não faria tão intrinsecamente parte mim. E faz.

Ameaças e chantagens de força física não são novidades na minha vida. E embora eu possa dizer que não sou uma linda iluminada super fácil de lidar, não existe nenhuma justificativa para certos tipos de atitudes, ainda mais quando estas de repetem rotineiramente.

Ontem tive meu celular despedaçado, tive meu espaço pessoal muito mais que invadido, tive uma mão que aproximou do meu pescoço quando empurrei a pessoa que me ameaçava para trás, senti minha barriga gelar, senti o prenúncio de violência, mas acima de tudo senti aquela coragem, mantive minha voz no lugar, a força lá de dentro dizendo para eu não me encolher, que eu sou mais forte, que todAs nós somos mais fortes. Podem me ameaçar, podem me bater, mas jamais me quebrar.

domingo, 28 de agosto de 2016

Aventureira

Por algum motivo idiota e incompreensível a nossa sociedade acha necessário que as pessoas se definam. Aparentemente é preciso saber quem se é para poder de fato ser alguma coisa. Faz sentido? Não. Mas é assim. Ridículo.

Enfim, partindo deste preceito, andei matutando sobre as minhas definições (malditas sejam!) e cheguei à conclusão que uma das mais fortes  é que as pessoas tendem a me considerar aventureira. E claro que têm base para isso, e!bora eu siga me considerando a pessoa mais medrosa do universo! O problema é que quando as pessoas e você mesmo criam expectativas sobre aquilo que você é e como deve agir fica bem mais difícil mudar ou assumir a mudança né.

E deixa eu dizer que muito embora eu tenha viajado bastante e certamente não negaria uma viagem a algum lugar paradisíaco se me fosse oferecida (quem não?) a vontade de bater pernas pelo mundo parece diminuir na mesma proporção que minha sabedoria aumenta (sonho meu rsrsrs).

Verdade que ocasionalmente os pés coçam e minha tendência é fugir pra bem longe a cada vez que as coisas não acontecem como eu gostaria (aparentemente minha mente é maravilhosa e funciona perfeitamente exceto quando deveria prever o futuro), mas cada vez menos quero passar meses a fio longe do lugar que é minha casa. Cada vez menos que ir pra extremamente longe e nunca mais voltar. Talvez tenha a ver com a idade, maturidade ou simplesmente a alma canceriana lutando para vir à tona e suplantar um pouco do espírito aquariano rebelde.

Por um motivo ou outro a ideia de ter uma tiny house no paraíso (ahã, até parece, rsrsrs) parece bem mais promissora ou mais romântica que seguir caminhando eternamente mundo afora (não que uma coisa impeça a outra).

Asas nos pés foi o que ouvi dizer sobre mim, mas a verdade é que não interessa para quão longe minhas desilusões me levem, a volta para casa é sempre certa.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Tem dias que me olho no espelho e a primeira reação é perguntar "quem é você?", dias em que simplesmente não me reconheço, dias em que o rosto do outro lado é de outra pessoa. O olhar, esse sim parece ser sempre o mesmo. Em dias como esse evito certos lugares da casa, evito a maldita janelinha que me faz realizar quão pouco conheço o ser que me encara. O olhar se torna arredio e tudo parece mais interessante que eu mesma. Em dias assim, a grande vontade é virar avestruz, onde esconder a cabeça embaixo da terra é tarefa fácil e aparentemente normal. Sonho de vida.... Quisera ser avestruz. Entro na internet, a melhor companheira das avestruzes humanas, em busca de passagens, procurando qualquer lugar para onde correr, tudo parece mais atrativo exceto o lugar onde estou. Tudo parece mais atrativo exceto a pessoa que sou. Ou a pessoa que deixei de ser, ou ainda aquela que temo assumir ser. Em algum momento foco meu olhar na tela, e lá está ela refletida mais sutilmente porém presente, observadora, me olhando lá do fundo de mim mesma, conhecedora de meus instintos, do funcionamento da minha mente. Olhos que não me julgam e por isso mesmo, pesam mais na alma. É então que resolvo encarar meu medo do espelho. Olho fixo, bem fixo para mim mesma, até as lágrimas saltarem dos olhos e finalmente me dou por vencida. Não sei quem sou, decido, mas aos poucos vou descobrindo.