terça-feira, 4 de março de 2008

Banglassi

A minha maior viagem foi quando estive na Índia. Nunca fui muito de fumar. Meus amigos fumam, não tenho nenhum problema com isso, mas realmente, não faz muito meu estilo. Já fumei. Quem não o fez? Fumei mais porque todos fumavam, não por exatamente vontade própria, claro que tem um pouco de curiosidade também….
Entao, fui a Índia. Mais precisamente a Pushkar. E lá estávamos nós, eu e Lu. Um conhecido tinha explicado que em Pushkar podíamos encontrar o banglassi. Banglassi? É. um batido de iogurte com banana e supostamente semente de maria.Como já expliquei, nem faz muito meu estilo, mas afinal, estava na Índia. Onde mais ia provar disso? E ali, tudo é uma nova experiência. Pedimos um, médio, para dividir. Se era médio mesmo, ou se o cara erro na dose, nunca chegarei a saber. Mas a viagem, nossa, essa foi longa.
Tomamos o banglassi as 10 da noite. Passei a noite olhando pro teto, vendo muito, mas muito mais, que um ventilador e uma parede branca. Segundo expliquei à Lu no meio da noite, compreendi o universo. Não só compreendi o universo, lembrei que já sabia de tudo desde que era criança, e que tinha um nome para isso.
Outro dia recebi um email de um amigo. Era sobre a distância na potencia de 10. Primeiro o arquivo PPS ia se afastando da terra, depois entrava numa folha de árvore. Adentrava até chegar onde tudo não passava de uma tela preenchida com pontinhos cinzas. Na mesma hora pensei: “Ih, foi exatamente isso que ´vi `com o banglassi!”Vi o mundo feito de átomos. Vi cada átomo. Vi todos os átomos. Vi a mim e ao universo. Lembro da sensação do que vi. Não lembro exatamente o que vi, nem lembro o nome que dava a isso quando criança.
Passei a noite olhando para o teto, e no meio de risadas, descobri o universo. Passei o outro dia todo, deitada na cama, sem poder me levantar. Lu tentou me por num banho de agua fría, para ver se eu acordava um pouco. O banho ela conseguiu me dar, entre muitos risos e choros (abri o olho com champu na cabeça, claro que nem sabia que tinha passado champu), mas não conseguiu fazer que eu saísse do quarto.
Ela tentou, mas voltou em menos de 15 minutos. Ainda estava viajando também. Chegou na esquina e ficou com medo de se perder. É mais, já se sentia perdida.
Só fui conseguir me levantar no outro dia, ao meio dia, os olhos, extremamente vermelhos, a sensação do zumbido ainda presente em cada célula do meu corpo, me apoiando na Lu.
Sensação inesquecível essa, a de compreender o universo. Para que preocupar-se se tudo sempre saía exatamente de acordo com um plano maior? Na hora soube que tudo estava certo, estava indo para onde tinha que ir. Entendi que o universo fluía, e eu era parte do fluxo. Todos éramos parte do mesmo fluxo. Vi a vida e a função de cada átomo, de cada célula. E deixei de me preocupar.
Pena que a sensação dura para sempre, mas a compreensão em si, essa não passa de uma memória.

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