segunda-feira, 12 de outubro de 2009

De volta a terra. 10 dias de silencio. 10 dias sozinha com o maior inimigo do homem, sua propria mente. 10 intensos dias e 10 fantasticos dias.

O primeiro dia e dificil, controlar a mente, mas como tudo e novo, voce se esforca mais. No segundo dia a mente comeca a se dar conta do que voce esta fazendo e vem pra cima. No terceiro dia eu e perguntava o que tinha passado na minha mente pra fazer um vipassana de novo. E no quarto dia quando voce tem que ficar imovel, nossa, ai sim voce quer fugir. Mas pouco a pouco a mente comeca a acalmar. Pouco a pouco o silencio, ainda que nao completo vai chegando. A respiracao ficando cada vez mais imperceptivel. As dores vao passando e voce lembra porque esta ali.

Sonhei. Sonhei muito. Muitas aguas passadas foram reviradas durante os sonhos. Isso porque estou acostumada a sonhar. Quem me conhece sabe. Nao faltam historias nos meus sonhos. Mas durante o Vipassana duplicaram em quantidade e intensidade. Simplesmente incrivel. Limpeza total de corpo e alma.

Acordei duas noites seguidas com um subito clarao no meu rosto. Olhei assustada e vi pela janela do teto uma incrivel lua cheia iluminando meus sonhos. Nao e todo dia que podemos ver a lua cheia desde a cama. Abri os olhos, sonolenta, vi a lua, apreciei por uns segundos, vierei de lado e pensei, volte a dormir que voce tem que acordar as 04:00!

Me sinto caminhando em ondas. Literalmente. Ligeiramente enjoada, como estar em alto mar. Voltar a vida real foi dificil. Ainda mais porque como o Dalai Lama esta vindo os hoteis estao todos cheios. E os precos dobraram. Um novo teste de equanimidade pos Vipassana.

Ah, mas o Vipassana tem muitas vantagens alem da meditacao. Por exemplo, fortalece as pernas. Isso de ficar fazendo as necessidades agachada, ufa, cansa. Dai descobri uma utilidade para a sempre presente torneirinha que os indianos usam para lavar as maos. E nao, nao e lavar as minhas maos, ja que os banheiros tem pia para isso. Nao, para dar apoio. Assim voce agacha, mas tem onde se segurar.

Alem disso o Vipassana, para quem ja fez pelo menos um curso anterior emagrece. Sim, porque tomamos cafe da manha (as 06:30 da manha) e almocamos (as 11:00) e nada mais. Bom, mentira, as 17:00 podemos tomar cha de limao. A verdade e que nao fiquei com fome. Meditar nao gasta muitas calorias. E no decimo dia sim podemos comer a noite. E foi o que fiz. Comi. E passei a pior noite de todas. Nao conseguia dormir. E quando finalmente conseguir, passei a noite tendo pesadelos. A comida pesa e nao nos damos conta.

Parece que realmente nao tenho muita sorte com os chuveiros nos vipassanas. Quem leu a entrada do primeiro Vipassana que fiz, sabe. So no ultimo banho consegui agua quente. Pois dessa vez fiquei toda feliz porque ganhei um quarto com banheiro. Chuveiro, pia e privada na chao. Mais feliz ainda quando consegui meu primero banho quente no primeiro dia. Entao, no segundo dia la fui eu toda contente tomar banho e pronto, agua gelada. Bom, muita coragem nessa hora. Terceiro dia, la vou eu de novo. E agua gelada! Cabelo pra frente e banho em duas partes. Cabelo e corpo, separadamente. Durante o almoco escrevi uma pequena nota para a manager explicando que nao tinha agua quente. Durante a noite me comentou que estava consertado. No dia seguinte la vou eu e entro em extase ao conseguir agua quente. Dia seguinte... Agua gelada de novo. Bom, decido, para nao desperdicar mais palavras, tomarei banho nos chuveiros compartilhados do lado de fora. NO luck. Agua fria. O problema e comigo mesmo porque depois, conversando com as outras mulheres descobri que todas sempre conseguiam agua quente...

No sexto dia choveu desesperadamente. Pedrinhas de gelo. Pude ve-las caindo desde a janela do banheiro. Nao chegou a ficar tudo branco como no Matutu, mas foi suficiente. A noite mais fria de todas. No dia seguinte, as 04:30 da manha, descobri ser impossivel meditar. Mesmo com meu cobertorzinho tibetano, tiritava. Mas ao amanhecer, olhei para o horizonte e vi a primeira montanha nevada. Valeu a pena todo o frio.


Vivemos num mundo de sensacoes. Sensacoes que tentam nos distrair do nosso verdadeiro eu. O homem em geral se sente vazio e tenta encontrar a felicidade em coisas materiais. Hoje quer um telefone, amanha um ipod, depois uma moto, carro, casa tv, tv maior, computador. Um querer sem fim. Um querer que nao preenche. O homem se preenche a si mesmo. Ou pelo menos deveria. O homem deveria saber fechar os olhos para tantas sensacoes superficiais e conhecer aquilo que verdadeiramente sente. Dentro. E entao se sentiria completo. E seria feliz. Em todos os momentos. Nao somente naqueles onde tudo sai conforme o esperado. Nao. Em cada momento, em cada minuto, segundo, porque viveria no agora.

No decimo dia podemos voltar a falar. Se diz que e para a volta ao mundo nao ser tao impactante. E e um momento lindo. Todos querem compartilhar felicidade. Querem saber como estao aquelas pessoas com quem conviveram por 10 dias, que ouviram chorar, mas nem olhar puderam. E ali, no decimo dia, existe tal felicidade no ar, os rostos brilhantes e sorridentes. Cada um sabendo que enfrentou seu pior inimigo por 10 dias e saiu ileso. Um momento magico.

Pois foi durante esse momento magico que conheci uma menina suica. Mais uma daquelas que voce olha e pensa ja conhecer de algum outro lugar. Bom, provavelmente uniremos as mochilas. Planejo ficar em Dharamshala por mais uma semana mais ou menos para escutar os ensinamentos do Dalai Lama. Depois vamos juntas para Risshkesh e de la para o Nepal! E se possivel, do Nepal, fazer um tour para o Tibet.

Viajar e assim. Conhecer gente, compartilhar momentos, caminhos se juntam e se separam incessantemente. Portas se abrem no mundo inteiro. Nao existe solidao. Nao existe tristeza. Existe sim sempre a duvida do amanha.

2 comentários:

fios da terra disse...

querida!!!!!

Anônimo disse...

Filha querida!

Estou muito feliz por você ter feito OUTRO Vipassana... e por ter encarado a água fria... que aí deve estar BEM fria....

E que bom que você encontrou uma amoa por afinidade... para juntas desbravarem esses lugares de sabedoria.

Papi